Nos últimos anos, a diversidade e a inclusão passaram a ser reconhecidas como a chave para a construção de empresas mais eficientes, inovadoras e produtivas. Com isso, a adoção da linguagem inclusiva ganhou força no mundo corporativo.
Como o próprio nome sugere, esse tipo de linguagem busca se comunicar sem excluir nenhum grupo. Porém, como vem geralmente acompanhado de outros conceitos, como a linguagem neutra, antirracista e anticapacitista, é comum que o assunto levante dúvidas até mesmo nos profissionais mais experientes.
Afinal de contas, o que é a linguagem inclusiva e como ela apoia a construção de um ambiente de trabalho mais justo e equitativo? Se você busca a resposta para essa e outras perguntas sobre o tema, siga com a leitura do texto!
O que é linguagem inclusiva?
Há muitas maneiras de explicar o que é a linguagem inclusiva. Mas, em resumo, ela nada mais é do que uma forma de comunicação, escrita ou verbal, que busca promover a inclusão e a igualdade, reconhecendo e respeitando as diferenças e singularidades de cada indivíduo.
Neste tipo de linguagem, termos e expressões que possam ser considerados ofensivos, discriminatórios ou que reforcem estereótipos negativos sobre grupos específicos são evitados. Porém, essas adaptações são feitas sem alterar as regras de gramática que regem a língua portuguesa.
Na prática, o que a linguagem inclusiva faz é promover a inclusão de todos os grupos da sociedade, tanto no ambiente organizacional quanto em outros espaços.
LINGUAGEM INCLUSIVA OU LINGUAGEM NEUTRA?
Antes de seguirmos falando sobre a linguagem inclusiva, vale abrir um parêntese para esclarecer a diferença entre ela e a linguagem neutra. Afinal, é bem comum haver confusão entre esses conceitos.
Embora ambos os tipos de comunicação contribuam para as pautas de diversidade e inclusão, as linguagens têm diferenças importantes a serem consideradas.
Na linguagem inclusiva, o foco é incluir todas as pessoas, independentemente de sua identidade de gênero. Neste caso, o gênero não é especificado e a ortografia das palavras não é alterada.
Por exemplo: em vez de utilizar termos genéricos masculinos, como "todos os colaboradores", a linguagem inclusiva traz termos neutros ou alternativos, como “pessoas colaboradoras”, “colaboradores e colaboradoras” ou, ainda, “a equipe”.
Já na linguagem neutra, evita-se a distinção entre os gêneros, utilizando termos que não se referem a nenhum em particular. Em vez de usar os pronomes pessoais "ele" ou "ela", por exemplo, a linguagem neutra utiliza pronomes como "elu" ou "ile" — alterando, portanto, a gramática tradicional.
Quais outros tipos de linguagem inclusiva merecem atenção?
Ainda que o modelo de linguagem inclusiva mais conhecido seja o que busca incluir todas as identidades de gênero, a verdade é que há diferentes formas de usar essa ferramenta de comunicação. Afinal, como dissemos no início, seu principal objetivo é abranger todos os grupos.
Dito isso, separamos mais quatro tipos de linguagem inclusiva que devem ser mantidos no radar das empresas:
LINGUAGEM NÃO SEXISTA
Mais do que contemplar todas as identidades de gênero, esse tipo de linguagem busca evitar o uso de termos e expressões que possam reforçar estereótipos negativos sobre determinados grupos, como as mulheres e as pessoas não binárias. Alguns exemplos são: “coisa de mulherzinha”, “mal-amada”, ou usar “homem” para se referir a “humanidade”.
LINGUAGEM ANTIRRACISTA
Evita o uso de termos que possam reforçar estereótipos negativos sobre determinadas raças ou etnias. Em vez de utilizar expressões como “a coisa tá preta” ou “denegrir”, é possível usar, respectivamente, “a situação está complicada” e “difamar”.
LINGUAGEM ANTICAPACITISTA
A ideia é fugir de termos que possam ser considerados pejorativos ou que reforcem estereótipos negativos sobre pessoas com deficiência (PCDs), como “dar uma de João sem braço”, “fingir demência”, entre outros.
COMUNICAÇÃO NÃO VIOLENTA
Embora não seja exatamente um tipo de linguagem, essa abordagem também merece destaque em nossa lista por contribuir com a construção de relações mais acolhedoras e respeitosas. Aqui, predomina a comunicação empática e eficaz, que fortalece as conexões humanas.
A comunicação não violenta, ou comunicação empática, baseia-se em quatro fundamentos principais:
- saber ouvir sem julgar;
- perguntar sem fazer avaliações precipitadas;
- compreender necessidades em vez de usar estratégias;
- argumentar sem dar ordens incisivas.
Leia também: VAGAS AFIRMATIVAS: ENTENDA PORQUE SUA EMPRESA DEVE PROMOVÊ-LAS
Por que adotar a linguagem inclusiva nas empresas?
A história já mostrou que a linguagem pode manter ou transformar os sistemas sociais. Não por acaso, ela ocupa um papel de destaque na construção de uma sociedade que inclui e abraça os mais diversos tipos de pessoas.
Se essa também é uma pauta valiosa para a sua empresa, a adoção de uma linguagem mais inclusiva só pode trazer benefícios. Veja, na sequência, quais são os principais:
APOIA A REPRESENTATIVIDADE E A INCLUSÃO
Como mostramos acima, a linguagem inclusiva busca representar todas as pessoas, independentemente de identidade de gênero, orientação sexual, raça, etnia, idade ou deficiência.
Quando é adotada na organização, ajuda a promover um ambiente inclusivo e respeitoso para todas as pessoas colaboradoras, tornando-as mais motivadas.
RESPEITA E INCENTIVA A DIVERSIDADE
Usar linguagem inclusiva é uma forma de demonstrar respeito e valorização pela diversidade de experiências e perspectivas que cada indivíduo traz para o ambiente de trabalho.
Isso ajuda a construir um espaço mais inclusivo, que reconhece e celebra as diferenças, além de também apoiar a atração e a contratação de pessoas plurais.
Tanto é que esse tipo de linguagem vem sendo cada vez mais utilizado na descrição de vagas de empresas que se preocupam verdadeiramente com a D&I.
AUMENTA O ENGAJAMENTO E A PRODUTIVIDADE
Quando as pessoas se sentem respeitadas e incluídas, elas tendem a ser mais produtivas e criativas no trabalho. Sendo assim, a linguagem inclusiva também ajuda a criar um ambiente mais positivo, que incentiva a colaboração e a inovação.
Inclusive, uma pesquisa recente da Deloitte sobre Diversidade, Equidade e Inclusão revelou que a maioria das empresas já percebe que as iniciativas nesta frente geram valor aos negócios, aumentam a retenção de profissionais e melhoram a qualidade da força de trabalho.
REFORÇA A RESPONSABILIDADE SOCIAL
Por fim, a adoção da linguagem inclusiva é mais uma forma de demonstrar o compromisso da empresa em promover a igualdade e a inclusão na sociedade, contribuindo assim para a construção de um mundo mais justo.
Como o RH pode apoiar o uso da linguagem inclusiva?
Um dos principais desafios do RH, atualmente, é tornar a Diversidade e a Inclusão parte da cultura organizacional. E isso inclui, também, apoiar a adoção de uma linguagem mais inclusiva em todos os níveis da empresa.
Sabendo disso, separamos algumas dicas de como os profissionais da área podem atuar ao longo deste processo. Acompanhe:
1. ADOTE A LINGUAGEM INCLUSIVA NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO
Se a ideia é tornar a linguagem inclusiva parte da cultura organizacional, é importante começar dando o exemplo. A melhor forma de fazer isso é adotando a inclusão em todos os meios de comunicação da empresa, tanto internos quanto externos. Isso inclui desde o site e as redes sociais da companhia até e-mails, intranet e eventos internos.
2. INCLUA AS LIDERANÇAS
Contar com o apoio das lideranças também fará toda a diferença para o sucesso desta estratégia. Afinal de contas, eles são grandes exemplos de “como agir” para os colaboradores e colaboradoras. Quando os líderes estão verdadeiramente engajados na aplicação de práticas inclusivas, a mudança de mentalidade da equipe se torna uma consequência natural.
3. PROMOVA CONSCIENTIZAÇÃO EM TODOS OS NÍVEIS
O próximo passo da jornada é fornecer conhecimento e promover a conscientização de todas as pessoas que fazem parte do negócio. Isso pode ser realizado de muitas formas, como por meio de divulgação de conteúdos sobre o assunto, organização de palestras sobre Diversidade e Inclusão, ou da criação de cartilhas com termos que caíram em desuso.
4. OBTENHA FEEDBACKS
A melhor forma de entender se as estratégias de comunicação estão dando certo e mapear o que ainda precisa ser melhorado é ouvindo o que os seus funcionários e funcionárias têm a dizer. Ao realizar pesquisas de satisfação, coletar feedbacks ou até mesmo conduzir o onboarding, lembre-se de acrescentar perguntas sobre essa temática. Você pode, inclusive, questionar como as pessoas gostam de ser referenciadas.
5. ATENTE-SE PARA A DESCRIÇÃO DE VAGAS
Os processos seletivos são, em muitos casos, o primeiro contato que um futuro colaborador ou colaboradora terá com a sua empresa. Por isso, é importante que o uso da linguagem inclusiva esteja presente desde as etapas iniciais do recrutamento.
Ao usar essa forma de comunicação na divulgação e descrição de novas vagas, você não apenas reforça que a diversidade e a inclusão são pautas importantes para a empresa, como aumenta as chances de atrair talentos diversos para o time.
Na prática: ao divulgar uma vaga de trabalho com operações logísticas, por exemplo, você pode criar um anúncio para Pessoa Operadora de Logística em vez da tradicional nomenclatura Operador de Logística.
Gostou de aprender mais sobre o uso da linguagem inclusiva nas empresas? Então, é hora de colocar todos esses aprendizados em prática e iniciar uma verdadeira transformação na cultura do seu negócio!
Vale lembrar que esse é apenas um dos muitos aspectos que contribuem para a construção de ambientes mais diversos e inclusivos. Caso queira continuar lendo sobre o assunto, temos outro conteúdo que pode ajudar: Diversidade de gênero nas empresas: tire todas as suas dúvidas.