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Embora exista hoje uma crescente compreensão sobre o valioso conjunto de habilidades que as pessoas neurodivergentes possuem, é contraditório notar que elas ainda enfrentam barreiras significativas ao buscarem por oportunidades profissionais.
Em 2017, a Harvard Business Review revelou que as taxas de desemprego neste grupo chegavam a 80%. Já em 2021, um estudo mostrou que o desemprego entre pessoas autistas com graduação é 2,17 vezes maior do que entre pessoas graduadas neurotípicas.
No Dia Mundial da Conscientização do Autismo, queremos propor uma reflexão sobre o que as empresas podem fazer para mudar esse cenário e desbloquear o potencial de uma força de trabalho verdadeiramente diversificada!
O que é a neurodivergência?
Antes de abordarmos a participação de pessoas neurodivergentes no mercado de trabalho, precisamos abrir um parêntese para explicar quem, exatamente, faz parte deste grupo.
De modo geral, a neurodivergência é um termo utilizado para descrever pessoas cujos cérebros funcionam de maneira diferente do que é considerado típico ou neurotipicamente esperado.
Sendo assim, as pessoas neurodivergentes frequentemente apresentam maneiras únicas de processar informações, perceber o ambiente e se relacionar com outros indivíduos.
5 exemplos de neurodivergência
Quando falamos sobre neurodiversidade, é importante esclarecer que existem diferentes condições que podem causar variações naturais no funcionamento cerebral.
Entre as condições neurodivergentes mais conhecidas, estão:
1. TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDADE (TDAH)
O TDAH é um transtorno neurobiológico que, como o próprio nome sugere, afeta a capacidade do indivíduo de prestar atenção, controlar impulsos e regular o comportamento. Essa condição tende a se manifestar na infância, podendo persistir até a idade adulta.
2. TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA)
O autismo, como é popularmente conhecido, é um distúrbio do neurodesenvolvimento que pode comprometer o comportamento social, a comunicação e a linguagem. Por ser considerado um espectro, o TEA abrange uma ampla gama de sintomas, desde casos leves a severos, sendo cada pessoa única em suas características e habilidades.
3. SÍNDROME DE ASPERGER
Considerada uma condição do espectro autista, a Síndrome de Asperger é caracterizada por dificuldades significativas na interação social e na comunicação não verbal (como interpretação de pistas e emoções).
4. SÍNDROME DE TOURETTE
É um distúrbio do sistema nervoso que envolve tiques motores e vocais involuntários, tais como: piscar os olhos, contrair o rosto, fazer movimentos dos membros, vocalizações involuntárias, entre outros.
5. DISLEXIA
A dislexia é um distúrbio de aprendizagem que afeta a habilidade de leitura. Em geral, indivíduos com dislexia podem ter dificuldade em reconhecer palavras, decodificar textos, compreender leituras e seguir sequências de instruções escritas.
Pessoas neurodivergentes e o mercado de trabalho
Ainda que de 10 a 20% da população mundial seja neurodiversa, segundo a Deloitte, os números sobre a empregabilidade de pessoas neurodivergentes é uma preocupação global.
Além dos dados que mencionamos no início do texto, há outros que merecem atenção:
- nos Estados Unidos, estima-se que 85% das pessoas no espectro do autismo estão desempregadas, em comparação com 4,2% da população total;
- já aqui no Brasil, dados divulgados pelo IBGE em 2019 mostraram que 85% dos adultos com autismo estavam fora do mercado de trabalho
- no Reino Unido, por sua vez, apenas 22% dos indivíduos autistas estão empregados. Além disso, 50% dos empregadores de lá admitem que não contratariam talentos neurodivergentes.
Embora os dados acima foquem especificamente no TEA, eles ajudam a jogar luz sobre o quanto o mercado de trabalho pode ser hostil para pessoas neurodivergentes. No próximo tópico, falaremos mais sobre o assunto!
Principais desafios dos trabalhadores neurodivergentes
Se a sua empresa deseja ir na contramão das estatísticas atuais, o primeiro passo é entender quais são os maiores desafios que os trabalhadores neurodivergentes enfrentam no dia a dia.
Entre os problemas mais comuns, destacam-se:
- desconhecimento das lideranças sobre o que é a neurodivergência e como ela pode ser gerida com sucesso no trabalho;
- preconceito inconsciente e estigmas associados às condições neurodivergentes, levando à discriminação nos processos de contratação e promoção;
- espaços de trabalho mal projetados para receber esses profissionais, prejudicando o desempenho e a permanência deles nas empresas;
- falta de compreensão sobre os desafios de interação social que as pessoas neurodivergentes muitas vezes enfrentam;
- processos de contratação pouco inclusivos, com questionários rígidos, entrevistas muito formais ou foco na história do candidato em vez de em suas habilidades.
Por que abraçar a neurodiversidade nas empresas?
Agora que você já está por dentro das barreiras que os trabalhadores neurodivergentes enfrentam, queremos chamar a sua atenção para os benefícios que as empresas podem obter ao combatê-las.
Uma das principais vantagens associadas à contratação de pessoas neurodivergentes é o acesso a uma variedade de habilidades e perspectivas.
Afinal, formas diferentes de pensar e interagir com o mundo muitas vezes favorecem o desenvolvimento de soluções inovadoras para os desafios enfrentados pela empresa.
A dislexia, por exemplo, nada mais é do que uma forma diferente de processar informações. Isso tende a resultar em um padrão diferenciado de pontos fortes, principalmente nos quesitos criatividade e inovação.
Há, ainda, um conjunto de habilidades que se relacionam com o autismo. Esse é o caso da capacidade de memorizar e aprender informações rapidamente, da atenção aos detalhes e da facilidade para se concentrar por longos períodos.
Se as informações acima ainda não te convenceram, segue um dado interessante: conforme a Deloitte, equipes com profissionais neurodivergentes em algumas funções podem ser 30% mais produtivas do que aquelas sem eles.
Além disso, a inclusão e a integração desses talentos também podem aumentar o moral da equipe.
5 passos para a inclusão de profissionais neurodivergentes
Ao abraçar a neurodiversidade, as organizações não apenas promovem uma maior inclusão e igualdade internamente, como também acessam todos os benefícios que somente uma força de trabalho diversificada e dinâmica pode trazer.
Confira algumas estratégias que podem ser adotadas para fortalecer essa jornada:
1. OUÇA AS NECESSIDADES DAS PESSOAS NEURODIVERGENTES
Um dos primeiros passos para criar ambientes de trabalho mais inclusivos é compreender a fundo quais são as necessidades, preocupações e pontos de vista dos profissionais neurodivergentes.
Mas lembre-se de que esse é um trabalho que demanda um olhar individualizado: não adianta querer colocar todas as pessoas neurodivergentes em uma mesma caixinha.
Apesar de existirem comportamentos esperados para cada condição, as pessoas são únicas em suas habilidades e desafios.
2. INVISTA NA FORMAÇÃO DE LÍDERES E GESTORES
As lideranças das empresas desempenham um papel central no apoio à inclusão de pessoas neurodivergentes. Sendo assim, elas precisam ser amplamente conscientizadas sobre o assunto.
Investir em treinamento e desenvolvimento para esses profissionais pode ajudá-los a entender melhor as necessidades das pessoas neurodivergentes, facilitar a integração delas no ambiente de trabalho e extrair o melhor que elas têm a oferecer.
3. PROMOVA AJUSTES NO ESPAÇO DE TRABALHO
Algumas pessoas neurodivergentes podem enfrentar dificuldades para lidar com a iluminação forte, altos níveis de som ambiente ou outros aspectos sensoriais. Por isso, é importante que as empresas estejam abertas a realizar pequenos ajustes no local de trabalho.
A criação de espaços tranquilos, com estímulos sensoriais reduzidos, bem como o estabelecimento de rotinas claras e previsíveis, pode fazer uma enorme diferença.
4. INCENTIVE O RESPEITO MÚTUO
Promover um ambiente de trabalho onde o respeito seja valorizado é essencial para a inclusão e a permanência de pessoas neurodivergentes nas empresas.
Entre as ações que podem contribuir para esse objetivo, destacam-se a implementação de políticas antibullying e antiassédio claras e o fornecimento de treinamento em diversidade para todas as pessoas colaboradoras.
5. ADAPTE OS PROCESSOS DE RECRUTAMENTO E SELEÇÃO
Processos de contratação muito genéricos ou tradicionais nem sempre funcionam com as pessoas neurodivergentes. É por isso que o comprometimento com a inclusão desses profissionais também passa pela revisão das técnicas de recrutamento e seleção.
A realização de entrevistas estruturadas e baseadas em habilidades é um exemplo de ajuste que pode ser adotado. Além disso, é preciso treinar os recrutadores sobre as diferentes formas de avaliar o potencial desses candidatos.
Outra estratégia bem-vinda é a abertura de processos seletivos voltados especificamente para talentos neurodivergentes. Essa prática faz parte das ações que buscam garantir a equidade no ambiente de trabalho, sendo conhecida também como vaga afirmativa.
Quer entender melhor como esses processos seletivos funcionam? Então, baixe agora mesmo nosso e-book gratuito Vagas afirmativas: um guia completo para promover equidade na sua empresa.