Clique no play para conferir a versão em podcast deste conteúdo!
Durante este mês, o tema da saúde mental se intensifica devido à campanha de prevenção ao suicídio, conhecida como Setembro Amarelo — e não é para menos. O Brasil acumula dados alarmantes: segundo o DataSUS, nos últimos 20 anos, o número de mortes autoprovocadas saltou de 7 mil para 14 mil. Entre as causas que levam a essa atitude extrema, a depressão ocupa o topo.
Quando vemos um país que enfrenta uma avalanche de pessoas diagnosticadas com a doença, é motivo de sobra para que haja mobilização coletiva, em todos os setores, para combater esse problema de saúde pública, muitas vezes associado à falta de condições básicas de moradia, alimentação, educação até oportunidades de emprego significativas e sustentáveis.
Com a abordagem ESG ganhando espaço e fomentando uma maior responsabilização das empresas para contribuir com problemas complexos da sociedade, organizações também precisam participar da solução. Embora o bem-estar dos colaboradores seja um tema cada vez mais presente, o debate segue mais necessário do que nunca para desencadear uma mudança de consciência sobre o impacto do trabalho na vida das pessoas, especialmente ao ver as conclusões do estudo da Gallup feito em 160 países.
O que me chamou mais a atenção na análise foi que, entre os cinco pilares de bem-estar avaliados, conforme abaixo, a pesquisa concluiu que o bem-estar na carreira é o que mais pesa no bem-estar geral das pessoas.
- Bem-estar na carreira: Você gosta do que faz todos os dias.
- Bem-estar social: Você tem amizades significativas em sua vida.
- Bem-estar financeiro: Você administra bem seu dinheiro.
- Bem-estar físico: Você tem energia para fazer as coisas.
- Bem-estar da comunidade: Você gosta de onde mora.
Fonte: O bem-estar dos funcionários começa no trabalho.
Mas, o que leva as pessoas a estarem bem em seus empregos? Sabemos que a produtividade, da perspectiva encarada até aqui, não é saudável. Longas horas de jornada de trabalho, valorização do perfil ‘workaholic’, a carreira acima de outros aspectos da vida são normas que começam a ser questionadas e nos direcionam para um outro ponto: o sentido do trabalho.
O movimento conhecido como “quiet quitting”, ou “demissão silenciosa”, reflete bem essa questão — jovens da geração Z estão focando em se dedicar ao que foram contratados para fazer, confrontando a cultura corporativa de ‘fazer de tudo’ para ascender na vida profissional. Mas aprofundar neste tema é conversa para outro artigo. Sigamos.
Com as mudanças que atravessamos, o fato é que as pessoas buscam equilíbrio e propósito. Na pesquisa do Manpowergroup, 3 em cada 4 trabalhadores querem se sentir apaixonados pelo seu trabalho; 64% querem trabalhar para construir um mundo melhor.
O mesmo caminho vemos no estudo da Gallup, o qual observa que a quantidade de trabalho impacta, mas a qualidade — ou seja, a experiência — importa mais quando o assunto é bem-estar. E com a influência do bem-estar na carreira, pessoas mais satisfeitas neste âmbito, como traz a pesquisa, tendem a prosperar mais em suas vidas e estão menos suscetíveis a desenvolver problemas de saúde, inclusive psicológicos.
É importante que empresas sigam com ações práticas, como incentivar a desconexão do trabalho, implementar dias sem reuniões virtuais, oferecer flexibilidade, mas ao mesmo tempo, é necessário que façam um movimento de expansão sobre o significado de bem-estar, olhando para esse tema de uma forma holística e conectada a debates que extrapolam as bordas empresariais.
Ao atuar ao lado de diversas organizações com a Talent Solutions, sempre que há o objetivo de redefinir a experiência dos colaboradores e colaboradoras nesse sentido, o ponto de partida é compreender como andam cultura e gestão. Lideranças ruins e falta de apoio de gerentes são apontados como uma das principais causas de burnout nas empresas, logo, preparar estas pessoas para cuidarem de relacionamentos — o que envolve boa comunicação, clareza, ética, conexão —, é fundamental para tratar temas como bem-estar, saúde mental e senso de propósito.
Portanto, o desenvolvimento de líderes torna-se um investimento valioso para que possam absorver novas camadas e habilidades, considerando a empatia e a sensibilidade para se relacionar com a equipe, estabelecendo conversas sobre esses temas como parte da rotina — inclusive como oportunidade para também manifestar suas próprias vulnerabilidades e abrir espaço para que as pessoas se sintam mais confortáveis em fazer o mesmo. É por este meio que gestores e líderes poderão criar um terreno favorável para identificar quem precisa de apoio para atravessar dificuldades e desafios, tanto no trabalho quanto em questões pessoais.
Segundo Jon Clifton, CEO da Gallup, “melhorar a vida no trabalho não é como ciência espacial, mas o mundo está mais perto de colonizar Marte do que de consertar os locais de trabalho quebrados do mundo”, e segue, “a solução real é simples assim: melhores líderes no local de trabalho. Os gerentes precisam ser melhores ouvintes, mentores e colaboradores.” Apesar de realmente não ser uma missão fácil ou imediata, sigo otimista de que mais organizações possam encarar de frente o bem-estar e a saúde mental como compromissos para com pessoas e sociedade. E depois, quem sabe, Marte.
E na sua organização, como estes temas são abordados? Comente aqui a sua visão sobre eles e, se preferir, me chame para uma conversa sobre os desafios da sua empresa.
Abraços,
Wilma Dal Col
Diretora de Gestão Estratégica de Pessoas no ManpowerGroup Brasil
Publicado originalmente em: https://bit.ly/3RBFDrz