Embora muitas empresas ainda não considerem a gordofobia como um assunto que precisa ser debatido da porta para dentro, os últimos anos deixaram claro que a exclusão de pessoas gordas é um problema, que, infelizmente, também está enraizado no mercado de trabalho.
Lá em 2009, por exemplo, uma pesquisa revelou que 65% dos executivos de empresas brasileiras tinham alguma restrição na hora de contratar candidatos obesos. Por mais que quase 15 anos tenham se passado desde então, muitos desses talentos continuam sendo alvo de discriminação em suas trajetórias profissionais.
Neste cenário, queremos convidar profissionais de RH e lideranças organizacionais a refletirem sobre como a gordofobia se manifesta no ambiente de trabalho e por que é urgente combatê-la!
O que é gordofobia?
A gordofobia é o termo usado para caracterizar a discriminação e o preconceito contra pessoas obesas – dois problemas com raízes nos padrões de beleza e na pressão estética impostas pela sociedade há décadas, principalmente para as mulheres.
É importante dizer que a gordofobia pode se manifestar de diferentes maneiras, indo desde atitudes e falas preconceituosas até representações negativas e a imposição de barreiras para a inclusão de corpos gordos nos mais diversos espaços.
Além disso, por ser um problema enraizado e inviabilizado, é comum que ele aconteça de forma velada. Ou seja, que ele se manifeste em ações e conversas cotidianas que, embora sejam consideradas inofensivas por muitas pessoas, escondem preconceitos.
Como a gordofobia se manifesta no ambiente de trabalho?
Especificamente no trabalho, a gordofobia pode se manifestar tanto de maneira sutil quanto explícita. Mas ambos os casos merecem atenção, já que têm o potencial de criar um ambiente hostil e prejudicial para os colaboradores que sofrem com ela.
Confira, na sequência, alguns dos principais sinais da gordofobia nas organizações:
- comentários e “piadinhas” sobre a aparência física, feitas tanto por colegas de trabalho quanto por superiores;
- assédio verbal direcionado a pessoas gordas, incluindo insultos, apelidos pejorativos ou linguagem depreciativa;
- discriminação na contratação, promoção e no acesso a oportunidades de carreira com base no peso;
- suposições sobre a saúde, a competência ou a força de vontade dos colaboradores gordos;
- políticas de vestuário que discriminam indiretamente pessoas obesas, como uniformes que não estão disponíveis em tamanhos maiores;
- falta de acessibilidade e acomodações no local de trabalho, como cadeiras, mesas e banheiros que não são adequados para colaboradores gordos.
Impactos negativos do preconceito contra pessoas gordas
As situações mencionadas acima são prejudiciais tanto para as pessoas que sofrem diretamente com elas quanto para as organizações. Além disso, elas também contribuem para a perpetuação de desigualdades na sociedade.
Para profissionais alvos de gordofobia, o preconceito e a discriminação podem resultar em:
- problemas de saúde mental, como depressão, ansiedade, baixa autoestima e transtornos alimentares;
- isolamento social decorrente da exclusão de determinadas atividades e da falta de apoio;
- limitação das oportunidades de emprego e de progresso na carreira, levando a desigualdades econômicas;
- adoção de comportamentos de risco, como dietas extremas e uso de substâncias emagrecedoras, na tentativa de atender aos padrões de beleza impostos pela sociedade.
Já para as organizações, não combater atitudes gordofóbicas tende a:
- criar uma cultura organizacional tóxica;
- minar os esforços em prol da diversidade e da inclusão;
- levar a problemas de atração e retenção de talentos;
- impedir a livre expressão de ideias e a inovação.
Além disso, empresas que permitem ou toleram a gordofobia também podem enfrentar processos trabalhistas. Inclusive, os últimos anos foram marcados por um aumento significativo no número de ações associadas a esse tipo de discriminação e preconceito.
Como combater essa forma de discriminação na empresa?
Para evitar esses e outros impactos negativos causados pela gordofobia, é fundamental que as organizações adotem políticas e práticas que promovam a inclusão, a diversidade e o respeito por todas as pessoas.
A partir de agora, vamos apresentar algumas das iniciativas que podem ser implementadas com esse objetivo. Acompanhe!
CONSCIENTIZE SOBRE O ASSUNTO
Por se tratar de um tipo de preconceito que está presente em toda a sociedade, muitas pessoas acabam sendo gordofóbicas sem ao mesmo se darem conta disso. Sendo assim, a conscientização é uma das principais formas de combater a gordofobia, especialmente a velada.
Entre as iniciativas que podem ser adotadas nesta frente estão a realização de treinamentos de sensibilização e o compartilhamento de informações sobre o assunto para colaboradores de todos os níveis organizacionais. Lembre-se: quanto mais esse tema for ignorado, mais difícil será enfrentá-lo.
CRIE POLÍTICAS ANTIDISCRIMINAÇÃO
Além de educar os colaboradores sobre o assunto, é importante que as empresas deixem claro que as atitudes gordofóbicas não serão toleradas. Um passo importante nessa direção é desenvolver políticas antidiscriminação claras e abrangentes, que proíbam o preconceito com base no peso e determinem as medidas a serem tomadas caso situações como essa venham à tona.
OFEREÇA CANAIS DE DENÚNCIA
Os colaboradores da sua empresa têm um espaço seguro por meio do qual consigam denunciar esses e outros tipos de problemas? Se a sua resposta for não, considere criar canais de comunicação confidenciais para que os profissionais que enfrentem discriminação ou assédio no local de trabalho possam fazer denúncias, sem medo de sofrer represálias.
Essa é uma excelente maneira de fazer cumprir as políticas antidiscriminação citadas no tópico anterior.
ADOTE UMA COMUNICAÇÃO INCLUSIVA
É preciso ter cuidado para que a inclusão de pessoas gordas não fique apenas no discurso. Utilizar imagens de pessoas com diferentes tipos de corpos nos materiais de recrutamento, comunicação e publicidade da empresa é uma forma de reafirmar o compromisso e o respeito com a diversidade.
O mesmo vale para a criação de oportunidades iguais para todos os colaboradores, independentemente das características corporais de cada um.
Considerações finais
Combater a gordofobia não apenas cria um ambiente mais justo e equitativo, mas também pode melhorar o engajamento, a produtividade e a reputação da empresa. Por isso é tão importante que a alta administração e o RH das organizações estejam comprometidos com essa pauta.
Mas lembre-se: essa é apenas uma das muitas ações que as organizações podem encabeçar para criar locais de trabalho cada vez mais diversos, equitativos e inclusivos. Caso queira conhecer outras iniciativas, recomendamos a leitura do artigo Vagas Afirmativas: entenda por que sua empresa deve promovê-las.