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Equidade de gênero de fora para dentro no mundo do trabalho

5 min de leitura

Publicado em 26/03/24

Atualizado em Março 26, 2024

Descobri que estava grávida do meu primeiro filho. Uma surpresa! Vivia em um ritmo de trabalho intenso, e a felicidade, então, dividiu espaço com as dúvidas. “Como vai ser agora?”, pensava.  

Mesmo trabalhando em uma empresa que valoriza a diversidade e apoia as lideranças femininas, não pude evitar sentir uma pontinha de insegurança. Conhecia histórias de colegas que enfrentaram desafios relacionados à maternidade em outras organizações. 

Sabemos que a realidade é hostil para a mulher-profissional-mãe, e pode ser ainda mais desafiadora a depender de marcadores sociais e raciais. 

Em 2023, Claudia Goldin recebeu o Prêmio Nobel de Economia por seus estudos sobre a participação da mulher no mercado de trabalho. Ela se debruçou em mais de 200 anos de história, coletou dados e desenhou uma linha do tempo para compreender como a presença feminina se deu ao longo dos anos, investigando também as razões para o movimento encontrado. Até porque, ao contrário do que se poderia supor, o resultado não foi uma linha ascendente, mas sim a forma de um “U”.    

Isso é revelador, especialmente porque foi possível demonstrar como a relação entre maternidade, cuidado e trabalho foi e ainda é um dos principais fatores que contribuem para a disparidade de gênero e para a remuneração desigual entre homens e mulheres que ocupam as mesmas posições e cargos.    

Após atravessar a era agrícola, a era industrial e a ascensão do mercado de serviços, o estudo de Goldin mostra que, atualmente, a maior parte da diferença salarial acontece, em geral, quando a mulher tem o primeiro filho, mesmo atuando na mesma profissão que um homem.  

Reforçando essa linha, um estudo da FGV mostra que mulheres perdem seus empregos após terem filhos. Em termos de remuneração, os homens ganham, em média, 25,3% a mais que as mulheres, segundo dados da doutora em economia Janaína Feijó, professora da FGV.   

Sim, temos motivos para sentir receio em relação ao futuro de nossas carreiras quando nos tornamos mães.   

De um lado, é imprescindível que empresas assumam o problema, exerçam a autocrítica e tenham compromisso como premissa para ações transformadoras. É preciso que líderes homens também se mobilizem para refletir e agir. Mas a mudança vai além dos escritórios e salas de reunião.  

Acredito que uma das formas de contribuir para que mulheres-profissionais-mães possam seguir suas jornadas de forma mais saudável passa por meio da revisão da dinâmica familiar. Dados de 2022 apontam que nós, mulheres, dedicamos 9,6 horas a mais a atividades domésticas e de cuidado do que os homens — no recorte de raça, mulheres pretas ainda se dedicam 1,6 hora a mais por semana do que mulheres brancas e tem menor taxa de participação no mercado.   

Para conseguirmos exercer bem o nosso papel no mundo do trabalho, precisamos de apoio emocional, claro, mas sobretudo precisamos ter a tranquilidade de que a responsabilidade pela prática diária — seja da casa, seja com os filhos — é partilhada equilibradamente. Isso é fundamental para podermos ter tempo e energia para nos dedicarmos à carreira e ambicionarmos o crescimento profissional — e veja, não há nada de errado em uma mulher ser ambiciosa. 

Tenho uma jornada de 13 anos no ManpowerGroup Brasil, ocupo um cargo de liderança em que tenho plena consciência de que pessoas contam comigo, com meu suporte e orientação. Sei que a companhia conta com minha capacidade de pensar estrategicamente e de lidar com desafios cotidianamente.  

Em casa, compartilho com minha família sobre essa responsabilidade, sobre esse papel, e entendo que essa partilha faz toda a diferença para entenderem o que faço, a profissional que sou. Na minha experiência, encontro respaldo no meu núcleo familiar, mas sei que essa não é a realidade de muitas mulheres.  

Entendo, a partir disso, que só conseguiremos alcançar uma mudança coletiva na equidade de gênero, em oportunidades e em remuneração, quando houver uma alteração na forma de enxergar a parentalidade e o cuidado. Quando a sociedade compreender que uma mulher pode e é capaz de ser uma profissional competente e comprometida sendo mãe e pode exercer a maternidade saudável sendo profissional, em qualquer área ou posição.  

O mais interessante, e desafiador, na busca pelo direito de equidade de gênero é que a mudança no mundo do trabalho extrapola o próprio mundo do trabalho. Neste sentido, precisamos olhar para fora.  

Você é mulher-profissional-mãe? Compartilhe a sua história comigo e vamos criar redes para novas reflexões sobre a presença feminina nas organizações.  

Abraços!  

Ana Guimarães  

Diretora de Operações no ManpowerGroup Brasil

Confira aqui a publicação original.

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