Representatividade, diversidade e equidade. A inclusão de mulheres no ambiente de trabalho carrega esses e outros conceitos que estão em voga no mundo contemporâneo e que, diga-se de passagem, deviam estar em voga há muito mais tempo. O espaço doméstico deixou de ser um espaço do feminino. As mulheres têm, ao longo da história, rompido barreiras e amarras e ocupado lugares antes inimagináveis. Com suas competências e habilidades, elas sabem o que querem e vão em busca das realizações pessoais e profissionais, que extrapolam os limites da casa.
No entanto, o ambiente corporativo ainda se coloca, em muitos casos, como hostil às mulheres. É preciso admitir que existem lacunas que impedem o acesso, a atração e a retenção de mulheres no mercado de trabalho. Por isso, diante desse movimento, as empresas e organizações precisam, para além do discurso, estar prontas na prática para incluir e atender às necessidades específicas das mulheres. Somente dessa maneira, abraçando as particularidades e os anseios, é que elas poderão, de fato, atuar com segurança e desempenhar toda a sua potencialidade.
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É preciso entender o que as mulheres valorizam em uma organização, ou seja, o que elas anseiam e esperam de um espaço que se diz preparado e disposto a recebê-las. Nesse sentido, em seu último artigo, “O que as mulheres querem no trabalho e como as organizações podem apoiá-las?”, a Diretora de Gestão Estratégica de Pessoas no ManpowerGroup Brasil, Wilma Dal Col, aprofundou a questão. E fica o convite para leitura na íntegra. Em seu texto, Wilma nos traz o estudo “What Women Want (At Work)”, do ManpowerGroup, que reuniu as diretrizes para apoiar as empresas nas ações de atração, retenção e desenvolvimento das mulheres. Veja as principais orientações:
O que as mulheres querem no mundo do trabalho?
- 80% querem gerentes e equipes que as apoiem
- 70% querem oportunidades para desenvolver suas carreiras
- 49% querem autonomia e flexibilidade
- 33% querem licença remunerada e apoio à saúde mental
Ao olharmos para as informações, fica clara a necessidade para as mulheres de contar com as pessoas. O suporte de gerentes e da equipe é um dos principais anseios, segundo os dados coletados. Temos, então, algo providencial para que as empresas contem com mulheres em seu quadro: a criação de uma cultura inclusiva e o investimento no preparo de líderes para lidar com as demandas do público interno feminino.
O papel do cuidado no reflexo das mulheres nas organizações
Quando falamos sobre olhar para as demandas específicas, falamos em promover iniciativas capazes de possibilitar a presença das mulheres nas organizações, em uma sociedade na qual o papel do cuidado foi historicamente atribuído ao sexo feminino. Existe uma sobrecarga que atravessa séculos e que deposita sobre as mulheres todas as responsabilidades da casa e dos filhos.
A não divisão das tarefas domésticas e familiares afeta em cheio a vida profissional das mulheres. Por isso, o papel sensível das organizações está em perceber esse desequilíbrio e buscar alternativas para que as mulheres tenham condições de atuar como profissionais, ainda que dentro dessa injusta dinâmica.
Nos dados citados acima, podemos ver como a flexibilidade é algo relevante para as mulheres: 85% querem autonomia para escolher o que funciona melhor para elas e para a rotina que abarca diferentes funções fora do trabalho. As empresas que olham para essa questão estão mais próximas da tão fundamental equidade de gênero.
Equidade de gênero é urgente
Entendo que falar sobre e praticar a equidade de gênero dentro das organizações não está mais no futuro do trabalho. Para mim, essas ações se encontram — e precisam estar — no presente. O tempo é agora ou, então, perderemos mais tempo. É sabido que, com a pandemia, o tempo para alcançarmos a igualdade entre homens e mulheres na economia, na educação e na política foi postergado por 36 anos, ficando em 135,6 anos, segundo o Relatório de Desigualdade Econômica de Gênero 2021.
A desigualdade entre homens e mulheres está presente também nos cargos ocupados dentro das organizações. E embora a proporção de mulheres entre os profissionais qualificados esteja aumentando, há ainda um abismo entre as rendas e em relação à presença das mulheres em cargos de liderança. Segundo o Relatório Global de Gênero do Fórum Econômico Mundial, atualmente, 61,9% das mulheres e 80,1% dos homens compõem a força de trabalho, sendo que elas representam apenas 39,4% dos cargos de gestão no Brasil.
Mas como e por que atrair mulheres na organização?
Depois dessa importante contextualização, você deve estar se perguntando: como e por que devo atrair mulheres para minha empresa? É fato que incluir mulheres e ter diversidade no mercado de trabalho é uma atitude de caráter humano, de valorização e de reconhecimento das competências e habilidades. Pelo lado das empresas, um estudo feito pela Corporação Financeira Internacional mostrou que incorporar mais mulheres às empresas traz benefícios como:
- acesso ao melhor talento disponível: o número de potenciais profissionais mulheres para preencher vagas teve um aumento, dos níveis mais baixos aos cargos de direção;
- maior produtividade e caminhos para inovação: a diversidade e a coexistência de homens e mulheres no mesmo ambiente de trabalho são catalisadores de criatividade e de ideias inovadoras;
- fortalecimento das equipes: as mulheres, muitas vezes, possuem como característica a capacidade de reunir pessoas e acolher opiniões e propostas, encontrando soluções mais assertivas e favorecendo a formação de equipes múltiplas e dinâmicas;
- melhora no ambiente de trabalho: em geral, as mulheres têm maior capacidade de empatia e uma tendência maior a valorizar o outro, pois estão mais dispostas a olhar para as necessidades das pessoas. Além disso, com mais facilidade para a comunicação e o feedback, elas contribuem para a melhoria do ambiente de trabalho e a resolução de conflitos;
- maior representatividade: ao contratar mulheres, é possível garantir que a força de trabalho de uma empresa represente a sua base de clientes, oferecendo conhecimentos variados sobre as preferências dos consumidores. Vale destacar que, no mundo, as mulheres influenciam 80% das decisões de compra.
Desse modo, o investimento das corporações em iniciativas para atrair mulheres e retê-las deve significar uma via de mão dupla, na qual tanto empregados quanto empregadoras contam com benefícios reais.
E quais os passos para atrair mulheres para minha empresa?
Por fim, gostaria de compartilhar com vocês um pouco da jornada para promover a atração, a retenção e o desenvolvimento de mulheres nas organizações. Acredito que o primeiro passo seja assumir o compromisso internamente, com uma conversa séria sobre diversidade e equidade de gênero dentro da empresa. Vejo essa ação de conscientização como alicerce para a construção de ações mais diretas.
Outro passo é a implementação de políticas capazes de garantir maior flexibilidade no trabalho — uma das principais necessidades das mulheres como vimos acima — para que as mulheres possam atuar com mais autonomia e não tenham que escolher entre a família e a carreira. A flexibilidade se traduz na mulher poder transitar entre trabalho remoto e presencial, por exemplo, ou ter a carga horária diferenciada, sem que isso afete seu desempenho ou suas chances de crescimento.
Aqui, um passo bastante voltado à atração de mulheres para organização: trata-se do momento de anunciar uma vaga. É fundamental que a linguagem utilizada no anúncio seja capaz de transmitir e detalhar as informações. É preciso que, na escolha das palavras, estejam claras desde as descrições de cargos até a cultura da empresa. Isso influencia, diretamente, na sua capacidade de atrair uma força de trabalho equilibrada por gênero.
Assim, entendo que, para incentivar o interesse de mais mulheres pelos cargos, as empresas precisam estar cientes da linguagem masculina codificada e, no lugar dela, usar uma comunicação mais aberta e inclusiva.
Para finalizar este assunto que é amplo e, obviamente, pede mais desdobramentos, vamos à questão da equidade salarial entre homens e mulheres. Ter a mesma remuneração é uma das demandas do público feminino no mercado de trabalho. Mas como garanti-la?
Em primeiro lugar, ressalto o básico: a equidade salarial dentro da mesma empresa e função é um direito garantido por lei. Conforme artigo 461 da CLT:
“Sendo idêntica a função, a todo trabalho de igual valor, prestado ao mesmo empregador, no mesmo estabelecimento empresarial, corresponderá igual salário, sem distinção de sexo, etnia, nacionalidade ou idade.”
Mas sabemos que a realidade é bem outra. Diante disso, uma maneira de eliminar a diferença na sua empresa é promover de forma intencional a criação de uma política de equidade salarial, que pode começar com uma pesquisa interna que compare salários X cargos e X funções, por exemplo, além da análise dos salários no mercado. Ciente da situação e com os dados em mãos, você pode corrigir qualquer discrepância nas remunerações e cargos e impedir que tal prática (re)exista na sua organização.
A contratação, a presença, o desenvolvimento de mulheres nas organizações são pautas mais do que necessárias no presente e substâncias para o futuro. Espero que as informações apresentadas aqui tenham sido úteis e, desde já, deixo meu convite para compartilhar este artigo e comentar suas impressões sobre o tema.
Um abraço e até o próximo,
Ana Guimarães
Diretora de Operações no ManpowerGroup Brasil
Publicado originalmente em: https://bit.ly/35sGubm