Reflexões do ManpowerGroup no Fórum Econômico Mundial em Davos, 2025
O trabalho está passando por uma transformação profunda. Impulsionado pelo avanço acelerado da tecnologia e pela incerteza econômica, o mercado global evolui em um ritmo sem precedentes.
Segundo o relatório Future of Jobs 2025, do Fórum Econômico Mundial, até 2030, 22% dos empregos de hoje serão criados ou substituídos por mudanças estruturais, e entre as habilidades mais demandadas estarão inteligência artificial (IA) e big data.
Mas essa mudança vai além dos números. Ela questiona a própria essência do trabalho e o papel do ser humano em um futuro cada vez mais impulsionado pela inteligência artificial. Enquanto empresas tentam se adaptar, estima-se que 39% das habilidades atuais se tornarão obsoletas nos próximos cinco anos.
O desafio não é somente acompanhar a evolução da tecnologia, mas repensar como valorizamos o trabalho das pessoas em um mundo cada vez mais orientado pela IA.
O papel do trabalho em um mundo digital
Com tantas mudanças acontecendo, o painel O Significado do Trabalho na Era da IA, organizado pelo ManpowerGroup, trouxe à tona reflexões essenciais sobre o futuro do trabalho — e, mais do que isso, sobre o papel de cada pessoa neste cenário.
Algumas perguntas inevitáveis surgiram:
- como medir o valor humano quando a IA assumir cada vez mais tarefas cognitivas?
- o trabalho continuará sendo uma fonte de propósito e realização?
Becky Frankiewicz (CCO e Presidente do ManpowerGroup para a América do Norte), Dr. Athina Kanioura (EVP e Chief Strategy and Transformation Officer da PepsiCo) e Francine Katsoudas (EVP e Chief People, Policy & Purpose Officer da Cisco) discutiram essas questões, trazendo percepções sobre o futuro da identidade humana no ambiente de trabalho.
Confiança: a ponte entre tecnologia e humanidade
No debate sobre o futuro do trabalho na era da IA, ficou claro que a resposta não está somente em métricas de produtividade e eficiência. Com a inteligência artificial assumindo cada vez mais tarefas cognitivas, é preciso ampliar nossa visão sobre o trabalho e seu verdadeiro significado. Essa transição, no entanto, pode gerar insegurança — e as participantes do painel reconheceram os receios em torno da substituição de empregos.
Como destacou Becky Frankiewicz: “o futuro do trabalho está em nossas mãos — depende das visões que criamos e das posturas que adotamos. À medida que o trabalho se torna mais digital, como garantimos que ele também se torne mais humano?”. Para ela, a chave está em redefinir o valor do trabalho, indo além da produtividade e focando no que realmente o torna significativo.
Francine Katsoudas complementou essa ideia: “por trás de tudo o que estamos discutindo, há um elemento essencial: a confiança”. Na Cisco, essa confiança é cultivada por meio de um ambiente de trabalho centrado no bem-estar, com iniciativas como questionários diários para monitorar padrões de sono e a saúde geral dos colaboradores.
Uma vez que a confiança é estabelecida, as empresas conseguem construir uma cultura organizacional mais humana. Encontrar o equilíbrio entre inovação tecnológica e valorização das pessoas será essencial para moldar o futuro do trabalho.
Becky Frankiewicz, Dr. Athina Kanioura e Francine Katsoudas participaram do painel O Significado do Trabalho na Era da IA.
IA e ética: garantindo um futuro centrado nas pessoas
A integração da inteligência artificial ao mercado de trabalho não é apenas uma questão de eficiência — ela traz consigo uma grande responsabilidade ética. Na PepsiCo, a IA é vista como uma prioridade estratégica, mas sempre em um modelo de negócios responsável. Como destacou Dr. Athina Kanioura: “a IA não é diferente de qualquer outra parte dos negócios”.
Questões éticas, como a mitigação de vieses, fazem parte das políticas da empresa, garantindo que a tecnologia seja usada para ampliar — e não substituir — as capacidades humanas.
Mas o futuro da IA não dependerá apenas da expertise técnica. O sistema educacional precisará evoluir para formar profissionais com uma combinação equilibrada de habilidades tecnológicas e competências humanas. Como ressaltou Francine Katsoudas: “precisamos de ciências sociais, STEM, ciências comportamentais”.
O sucesso no mercado de trabalho do futuro exigirá um conjunto diversificado de habilidades: conhecimento técnico, pensamento crítico, resolução de problemas e soft skills — qualidades insubstituíveis pelas máquinas, mas essenciais para qualquer setor.
O futuro do trabalho: IA como aliada do potencial humano
As discussões do painel destacaram outro ponto essencial: o futuro do trabalho não será apenas sobre o que fazemos, mas como fazemos. À medida que a IA avança, as empresas que souberem usá-la para potencializar as capacidades humanas terão uma vantagem competitiva.
Isso nos leva a uma reflexão importante: se a IA pode realizar tantas tarefas cognitivas com eficiência, qual será o diferencial humano no trabalho? A resposta está nas nossas qualidades únicas — criatividade, inteligência emocional, julgamento ético e a habilidade de criar conexões significativas.
Dr. Kanioura enfatizou que a grande vantagem da IA, especialmente da IA Generativa, está na experiência do usuário: “você não precisa entender a tecnologia para que ela te ajude a tomar decisões melhores e a trabalhar de forma mais inteligente”.
O verdadeiro sucesso dessa transição não será medido somente pelo aumento da produtividade ou pela taxa de adoção da IA, mas pela nossa capacidade de integrar a tecnologia de maneira que valorize e amplifique o trabalho humano.
Como concluiu Becky Frankiewicz: “com a IA, estamos preparando as habilidades do futuro e permitindo que os profissionais se concentrem no que é verdadeiramente humano, no que traz significado e propósito ao trabalho”.
Essa visão propõe um futuro em que a IA não reduz o valor humano — mas o potencializa. O desafio que temos pela frente é tanto tecnológico quanto filosófico: garantir que a IA evolua como uma ferramenta para as aspirações humanas, e não como um obstáculo para elas. Com uma liderança responsável e um compromisso ético, podemos criar um mundo onde a tecnologia enriqueça a experiência do trabalho, ao invés de substituí-la.