O que você quer ser quando crescer?
Meninos e meninas tendem a responder a essa pergunta de maneiras diferentes. Afinal, das brincadeiras da infância que nos permitem sonhar com o futuro às decisões sobre caminhos profissionais na juventude, estereótipos de gênero são um dos principais fatores que estreitam as possibilidades, especialmente os horizontes das garotas.
Quando olhamos para as áreas de tecnologia, ciência, matemática e engenharia — carreiras STEM, na sigla em inglês, observamos aspectos bem interessantes que podem indicar, ainda que de forma inconsciente, alguns estereótipos que acompanham a vida escolar. Por exemplo, talvez um dos fatores que influenciem isso é provavelmente existirem mais reforços e reconhecimentos para os meninos quando eles utilizam a capacidade lógica, estimulando foco e desenvolvimento em disciplinas exatas, enquanto as meninas parecem receber menos reforço e reconhecimento nessas disciplinas.
Observamos isso se refletindo no mercado de trabalho. Em TI, por exemplo, a presença de homens supera a participação das mulheres: elas estão em apenas 39% dos cargos de Tecnologia da Informação e Comunicação, segundo a Brasscom, a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais.
Já a ANPEI, a Associação Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento das Empresas Inovadoras, mostra que, quanto maior o porte da empresa de inovação, menor a presença de mulheres, assim como outros grupos minorizados, na área de Pesquisa e Desenvolvimento.
Em um relatório da UNESCO, além do estereótipo de gênero, outros fatores são apontados como obstáculos para a participação de mulheres nos segmentos ligados à economia digital, entre eles: desigualdade social, falta de infraestrutura e pedagogias voltadas ao aprendizado de disciplinas STEM, carência de informação sobre o potencial das áreas e, ainda, a falta de referências femininas no mercado.
O problema é estrutural, e a falta de visibilidade e conhecimento sobre mulheres que desafiam padrões é apenas um sintoma.
Conforme a pesquisa Meninas curiosas, mulheres do futuro, conduzida pela plataforma social “Força Meninas”, 62% das entrevistadas não conheciam nenhuma mulher que atuasse nas carreiras STEM.
Sem incentivo e sem referências, em espaços majoritariamente masculinos, como é possível uma menina imaginar o seu futuro como engenheira, desenvolvedora, pesquisadora ou cientista?
No mundo corporativo, como Diretora de Gestão Estratégica de Pessoas, me pergunto como as empresas estão agindo para criar modelos femininos nas áreas STEM e como têm se esforçado para motivar as novas gerações de meninas.
Para possibilitar que (mais) mulheres alcancem e evoluam na área de tecnologia, engenharia, inovação, é fundamental haver uma governança e uma cultura pautadas na responsabilidade social e na equidade. A inclusão, então, precisa ser uma parte essencial dessa governança, atravessando todas as dimensões, do recrutamento e seleção ao desenvolvimento de talentos e lideranças.
Ao integrar, incluir e capacitar talentos femininos em atividades STEM, empresas devem ir além do discurso para, de fato, encorajar e inspirar outras mulheres. Seja por meio de palestras internas para colaboradoras ou em redes de escolas públicas ou privadas, é necessário que histórias alcancem mentes e corações daquelas que estão em um percurso de formação ou que desejam novos rumos para a carreira.
Àquelas que têm passos firmados em profissões STEM, fica a missão de conversar com outras mulheres e meninas, compartilhar as vivências, os desafios, e sobretudo, mostrar que mulheres, com apoio e incentivo, podem ocupar e se destacar em quaisquer espaços e atividades que desejarem e dedicarem seus esforços.
Assim, referências se tornam faróis que abrem caminhos e colaboram para expandir respostas e possibilidades de futuro.
A sua empresa tem mulheres atuando na área de tecnologia, inovação e pesquisa? Você é uma delas? Conte essas histórias!
Abraços,
Wilma Dal Col
Diretora de Gestão Estratégica de Pessoas no ManpowerGroup Brasil