Cultura, integração, colaboração, engajamento, resultados. Se me pedissem para definir um denominador comum para impulsionar todos esses fatores, diria, sem dúvidas, que é a comunicação. No entanto, arrisco dizer que é justamente esta uma das habilidades humanas mais subestimadas nas organizações.
Talvez porque a entendamos como algo “pronto”, já que é natural e que faz parte das nossas vidas desde sempre. Talvez porque, hoje, a tecnologia nos dê uma falsa sensação de comunicação eficiente — mas agilidade quer dizer, necessariamente, qualidade? Estamos conectados, trocando mensagens em diversos canais, mas a todo momento somos interrompidos por notificações e distrações. Estamos mesmo compreendendo ou sendo compreendidos?
Pense no seu ambiente de trabalho. Aposto que você já deve ter vivenciado alguma situação em que concluiu: esse problema aconteceu por uma falha de comunicação. Quando isso ocorre, os problemas são mais de um. A pesquisa The State of Business Communication mostra que a comunicação ruim tem efeitos em diversas camadas.
No estudo, foram contabilizadas cerca de 7 horas perdidas por semana devido a uma comunicação fraca. Com isso, vêm entregas inadequadas, piora na saúde mental, perda de confiança e de engajamento e, na ponta, clientes menos satisfeitos.
Embora a comunicação impacte negócios e relações, o que chama atenção na pesquisa é que, para 74% das lideranças de negócio, as empresas negligenciam os custos de uma comunicação falha, e 75% admitem que a empresa não valoriza o impacto positivo de uma comunicação forte.
Portanto, acredito que o primeiro ponto é subverter a lógica de que comunicação é algo “encerrado”. É preciso ver a comunicação como um fator humano em processo de melhoria contínua. É um aspecto comportamental que envolve uma série de competências específicas, como escuta ativa, empatia, objetividade, clareza, tom de voz, linguagem corporal, adequação da mensagem ao público, escolha de palavras e do canal.
Um segundo ponto é encarar a comunicação para além de ferramentas e plataformas — a funcionalidade é uma dimensão da comunicação, mas não a única. Antes de disponibilizar recursos, é interessante investigar os principais obstáculos que as pessoas enfrentam na comunicação com seus colegas e com as lideranças.
O investimento no treinamento de líderes, por exemplo, pode ser muito mais efetivo para estreitar vínculos, gerar senso de pertencimento e promover alinhamento e apoio aos profissionais.
Afinal, somos nós que estamos à frente das equipes e que precisamos transmitir desde a cultura organizacional até as responsabilidades e expectativas em relação ao trabalho, bem como ter capacidade de ouvir as pessoas do time e suas respectivas demandas e singularidades.
Pergunte-se se as lideranças da sua empresa conseguem falar sobre o negócio para as pessoas. Conseguem se expressar de forma empática e aberta ao diálogo? Conseguem explicar claramente qual é o objetivo perseguido e como o trabalho de cada um é importante para o todo?
Se uma liderança não se comunica direito com as pessoas, a mensagem que fica é de desinteresse e de falta de atenção. E quem se engaja quando é assim? Neste sentido, o treinamento de líderes é indispensável e deve considerar o desenvolvimento e o aperfeiçoamento da comunicação continuamente.
Por fim, é importante considerar que grande parte das interações acontecem por meio de plataformas. Mas durante uma reunião online, por exemplo, até onde as pessoas estão, realmente, presentes e atentas? Quanto estão distraídas com outras atividades, barulhos, notificações?
A expectativa é de que sejamos multitarefas, mas se temos a tecnologia para trabalhar, não seria melhor sermos mais humanos e usarmos isso em cada atividade feita? Para isso, Gestão de Pessoas e lideranças devem trabalhar em conjunto para criar uma cultura que favoreça o foco e as habilidades humanas, evitando a armadilha da dispersão e da sobrecarga de tarefas e de informação.
A comunicação é o cerne para que pessoas e organizações superem desafios das mais variadas naturezas. É a possibilidade de estabelecer relações mais transparentes, mais sustentáveis e mais colaborativas, o que, por sua vez, impacta em melhor integração entre pessoas e seus saberes, entre líderes e liderados e, assim, promove entregas mais ricas e acertadas.
Mas a comunicação só poderá ser alavanca de talentos e de resultados quando for vista como tal. Como esta habilidade humana é abordada na sua organização? Seria hora de rever o olhar para a comunicação da porta para dentro?
Compartilhe sua visão sobre este tema comigo.
Abraços,
Wilma Dal Col
Diretora de Gestão Estratégica de Pessoas no ManpowerGroup Brasil
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