Para entender o futuro do trabalho, é sempre válido olhar para o passado. Afinal, cada período da história trouxe transformações significativas para essa área da nossa vida, moldando como a enxergamos hoje.
Desde os primeiros agrupamentos humanos até a era da hiperconectividade, o conceito de trabalho tem evoluído e assumido significados distintos, refletindo os valores, a cultura e os pensamentos da sociedade de cada época.
Atualmente, vivemos mais uma profunda transformação sobre o tema, tanto individual quanto coletivamente. Neste texto, vamos desbravar essa trajetória, para então compreender o que vem pela frente. Você nos acompanha nessa jornada?
Antes de embarcarmos na linha do tempo, vale lembrar que o trabalho faz parte da vida desde os primórdios da civilização. De forma geral, podemos definir esse conceito como qualquer ação humana que transforma a realidade ao nosso redor.
O trabalho pode envolver esforço físico, criatividade ou pensamento intelectual, sempre visando produzir, modificar ou suprir necessidades, como moradia, alimentação, educação e até momentos de lazer.
O trabalho pode ser observado desde a Pré-História, quando nossos ancestrais desenvolveram ferramentas com pedras lascadas, modificando o ambiente ao redor para sobreviverem.
Nesta época, os membros de cada comunidade começaram a se dividir em tarefas de maneira relativamente simples: alguns coletavam alimentos usando esses utensílios, outros preparavam as ferramentas ou defendiam o grupo contra predadores e demais ameaças.
Com o aparecimento da agricultura, por volta de 10 mil anos atrás, o trabalho passou a ser mais organizado, diversificado e especializado. Foi a partir disso que as pessoas começaram a se estabelecer em aldeias e cidades, cultivando a terra e criando animais para obter alimentos e matérias-primas.
Nas civilizações que deram origem à cultura ocidental, como Grécia e Roma, houve um fortalecimento da divisão social do trabalho. Artesãos, produtores de alimentos e pessoas escravizadas, responsáveis por trabalhos manuais, passaram a ser vistos como inferiores, reforçando uma visão negativa em relação às tarefas físicas.
Por outro lado, atividades mentais foram supervalorizadas, sendo os aristocratas considerados dignos de desfrutar do lazer criativo e do exercício do pensamento.
O filósofo Aristóteles, por exemplo, defendia a ideia de que não era possível ser livre e, ao mesmo tempo, estar obrigado a ganhar o próprio sustento. Para ele, o tempo deveria ser dedicado ao aprimoramento intelectual e às virtudes como a política, a escrita e as artes.
Durante a Idade Média, o trabalho variava bastante de uma região para a outra. Mas, de uma maneira geral, a sociedade medieval era fortemente agrária, com a maioria da população envolvida na agricultura.
Os camponeses e as camponesas formavam a classe trabalhadora mais numerosa da época, ocupando-se das terras dos senhores feudais em troca de moradia e proteção.
Seu dia a dia era marcado por muito esforço no campo, onde plantavam, colhiam, cuidavam dos animais e realizavam diversas tarefas essenciais para a manutenção das propriedades.
Além do trabalho rural, havia também os artesãos, responsáveis por produzir bens e serviços em pequenas oficinas, sendo os sapateiros, ferreiros, carpinteiros, tecelões, joalheiros e tintureiros os ofícios mais comuns.
Aliás, muitos desses trabalhadores faziam parte das guildas, associações que regulamentavam a qualidade dos produtos e estabeleciam os preços.
Outro grupo que se destacou na época foi o dos comerciantes, que negociavam mercadorias entre cidades e contribuíram para o surgimento de uma nova classe social: a burguesia.
Com isso, o trabalho começou a ganhar um novo significado, deixando de estar ligado somente à subsistência para ser visto como uma atividade que dignificava a existência e proporcionava satisfação pessoal.
O ócio, tão valorizado na antiguidade, perdeu seu lugar de destaque.
Também na Idade Média, surgiu o Renascimento, um movimento que abrangeu diversas áreas, como a cultura e a economia. O primeiro passo para a Era Moderna foi quando a humanidade se tornou o “centro do mundo”.
No século XVIII, a humanidade foi impulsionada para a Era Industrial com o desenvolvimento das máquinas a vapor, resultando em mudanças radicais na maneira como o trabalho era realizado e em um período de transformações sociais efervescentes.
A burguesia industrial, proprietária dos meios de produção, enfrentou a recém-formada classe assalariada. A crescente população urbana proporcionou mão de obra barata e as máquinas substituíram as ferramentas manuais, permitindo a produção em massa e o aumento da eficiência produtiva.
Isso levou as pessoas trabalhadoras a se distanciarem do que estavam fazendo e da ideia de que o trabalho era uma expressão de suas habilidades individuais.
As jornadas eram longas e, muitas vezes, perigosas, e as condições precárias nas fábricas e indústrias foram o que levaram à formação dos movimentos operários que lutavam por direitos trabalhistas.
Hoje em dia, esses direitos sustentam a relação entre profissionais e empregadores.
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Outras técnicas e ferramentas influenciaram os sentidos do trabalho desde a segunda Revolução Industrial, no século XIX, quando a eletricidade substituiu o vapor, aprimorando os processos produtivos e estimulando a busca pela eficiência máxima.
No século XX, por exemplo, a terceira Revolução Industrial deu início à Era Digital. Com o avanço da tecnologia e da globalização, o trabalho tornou-se cada vez mais especializado e complexo.
Surgiram, então, profissões em áreas como Tecnologia da Informação, Finanças, Marketing e Serviços. A jornada de trabalho foi reduzida, as condições melhoraram e os direitos trabalhistas foram criados.
Além disso, as mulheres e outras minorias começaram a ter oportunidade no mercado de trabalho.
Hoje, a automação e a inteligência artificial estão transformando a maneira como trabalhamos. Sistemas robotizados podem executar tarefas repetitivas e perigosas, enquanto os talentos se concentram em atividades criativas e estratégicas.
A digitalização e a conectividade permitem que as pessoas trabalhem remotamente e se relacionem com colegas e clientes em todo o mundo. No entanto, essas mudanças também trazem desafios, como a necessidade de adaptação constantemente a novas tecnologias.
A era da hiperconectividade deu seus primeiros sinais nos anos 2000 e continua em uma evolução cada vez mais rápida.
A introdução de tecnologias emergentes tem reconfigurado não só a cadeia produtiva, mas também as habilidades necessárias para que profissionais e empresas prosperem, criando possibilidades de onde, como e por que trabalhamos.
As pessoas estão começando a perceber o quanto a tecnologia e a inovação melhoram o mundo do trabalho, e a ideia de “humano contra automação” está sendo deixada de lado. Nesse contexto, as organizações precisam usar o poder tecnológico para “reumanizar” os espaços, tornando-os mais pessoais.
A evolução tecnológica e as transformações no comportamento do consumidor também geraram uma nova economia.
Nela, profissionais autônomos oferecem seus serviços por meio de plataformas digitais, criando um ecossistema de talentos que inspira outra mentalidade, mais proativa, criativa e autogerenciável, inclusive para trabalhadores permanentes.
No entanto, essa dinâmica também pode ser vista como uma forma de precarização do trabalho, um fenômeno conhecido como “uberização”, quando os trabalhadores não têm vínculos formais de emprego e, consequentemente, menos garantias e direitos.
Como mostra o nosso Relatório de Tendências Globais 2025: Acelerando a Adaptabilidade, as pessoas estão redesenhando o que significa trabalhar e, consequentemente, como as empresas devem se preparar para atrair e reter talentos.
Hoje, por exemplo, a força de trabalho global está cada vez mais diversificada, reunindo profissionais de diferentes gerações em uma única equipe, com expectativas e habilidades plurais.
A mais recente delas é a Geração Z, que está entrando no mercado de trabalho em um período de mudanças rápidas, sem o contexto tão claro de como as organizações funcionavam no passado.
De modo geral, as pessoas nascidas entre 1996 e 2012 buscam por empregadores que se preocupem com seu bem-estar, garantam maior segurança financeira e ofereçam desenvolvimento de carreira.
A boa notícia é que elas são as mais propensas a acreditar que seus empregadores oferecem boas oportunidades de promoção (63%), ferramentas tecnológicas úteis (80%) e chances de desenvolver novas habilidades (76%).
Vale lembrar que a Geração Z também valoriza fortemente a Diversidade, Equidade, Inclusão e Pertencimento (DEIP), assim como os Millennials.
Não por acaso, esse é um assunto que deve continuar em pauta no mercado: segundo nossos dados, a maioria dos empregadores globais (61%) afirma que as ações de DEIP são uma parte importante do planejamento estratégico de pessoas.
Até 2030, a previsão é de que 92 milhões de funções deixarão de existir, abrindo espaço para a criação de 170 milhões de novas funções.
Neste contexto, o planejamento de carreira e o desenvolvimento profissional se tornarão ainda mais cruciais para os trabalhadores que quiserem prosperar. Contudo, apenas 27% das pessoas trabalhadores afirmam realmente ter um plano estruturado.
O papel dos líderes e do RH diante deste desafio que se desenha é converter o entendimento sobre a importância da requalificação em ações práticas, consistentes e individualizadas.
Mas atenção: esse esforço precisa alcançar também os profissionais da linha de frente. Atualmente, apenas 1 em cada 3 (32%) profissionais operacionais confia que seu gestor considera seu desenvolvimento de carreira. Como reflexo dessa falta de perspectiva, mais de um terço desses profissionais (35%) planeja deixar seu cargo nos próximos meses.
É impossível falar sobre o futuro do trabalho sem considerar a transformação dos negócios para um modelo mais verde.
Afinal, os empregadores estimam que mais da metade (57%) das habilidades em áreas-chave, como Produção, TI e Operações, precisarão ser ajustadas para adotar práticas mais sustentáveis.
Para superar essa lacuna, os empregadores deverão investir, cada vez mais, em tecnologias baseadas em IA que facilitem o planejamento de uma força de trabalho voltada para a economia verde.
O caminho para essa transformação passa por avaliações periódicas de habilidades, permitindo a implementação de estratégias eficazes de reskilling e upskilling em larga escala.
Assim, as pessoas colaboradoras — tanto as atuais quanto as futuras — estarão mais preparadas para assumir funções alinhadas às demandas do mercado sustentável.
Ao longo da história, o trabalho sempre esteve em constante transformação, refletindo avanços tecnológicos, mudanças filosóficas, evoluções econômicas e dinâmicas sociais.
Hoje, compreendemos esse processo com ainda mais clareza, o que nos dá a oportunidade de construir formas mais sustentáveis de trabalhar e, ao mesmo tempo, nos adaptarmos com mais preparo às mudanças.
Gostou desse conteúdo? Então, você vai adorar mergulhar no nosso Relatório de Tendências Globais 2025 — um guia essencial sobre o que vem por aí no mundo do trabalho.