Você sente que não acompanha o ritmo das mudanças? Percebe a sua equipe cansada de tantos ajustes de rota e confusa com a enxurrada de novas informações? Você provavelmente não está sozinho ou sozinha. A sensação de não estar no mesmo passo das transformações é coletiva.
Tanto que essa realidade, ou melhor, esse desafio, está entre as cinco prioridades do RH para 2024, segundo relatório da Gartner. Das lideranças da área, 77% afirmam que os colaboradores estão fadigados pela velocidade das mudanças. Reflexo do acúmulo desde a pandemia, as pessoas buscam estabilidade em um mundo que não para. Haja resiliência!
Além desse dado, que já é bastante significativo, outro ponto da pesquisa me chamou a atenção. A disposição para mudar caiu de 74% para 43%, enquanto o volume de mudanças subiu de 2 para 10 na escala. É isso: sabemos que existem novas demandas, mas nem sempre estamos com capacidade de fazê-las acontecer.
Isso cria um ciclo. Fadigados, colaboradores se sentem menos propensos a seguir na empresa, a contribuir com o trabalho e tendem a confiar menos na organização. O gap, então, traz riscos ao desempenho profissional e ao próprio negócio.
Diante de cenários de natureza complexa, como este, a liderança se torna ainda mais importante para conduzir o barco no mar agitado. No entanto, a pesquisa também mostra que, para 82% dos líderes de RH, os gestores não estão preparados para lidar com tantas ondas. Afinal, também sentimos os efeitos de tanta volatilidade.
Quando me deparo com situações sensíveis para a liderança, entendo que o primeiro passo seja ajustar a perspectiva. Com a rapidez que tudo acontece, precisamos partir da premissa de que o modo como agíamos precisa ser revisto. Neste caso, é a dinâmica de relacionamento entre líderes e liderados que passa por um intensivo.
Se antes a empatia era um tempero na liderança, agora se torna ingrediente principal. Se antes a comunicação era necessária, a frequência deve ser maior, e o método — de diálogo e de registro — mais claro do que nunca. Se a confiança é posta em xeque, será preciso agir intencionalmente para construir vínculos mais fortes com e entre a equipe.
Entre outros propósitos, essas conversas servem para o líder compartilhar o porquê das mudanças, garantir que todos entendam a necessidade de mudar, os benefícios que estão no horizonte, além, claro, abrir espaço para o debate sobre prioridades e processos. É importante, e fator de superação à resistência, que as pessoas possam participar da elaboração dos caminhos e se enxerguem neles.
Mas tem um detalhe: o campo da comunicação só funcionará se houver um trabalho para que lideranças construam ambientes psicologicamente seguros e estejam habilitadas a identificar indícios de fadiga da mudança em suas equipes — apatia, objeções a novidades, comentários negativos frequentes. É uma etapa preventiva importante, especialmente porque a fadiga pode levar ao burnout.
À medida que o tempo avança, as mudanças se acumulam e testam a resiliência de todos nós. E se é impossível conter as transformações, que possamos direcionar energia para construir a base de tudo: nossos relacionamentos. Se tudo muda o tempo todo, que, ao menos, possamos assumir o desafio de mãos dadas.
Compartilhe a sua experiência na era da adaptabilidade constante.
Será ótimo conversar e conhecer outras percepções sobre este desafio diário.
Abraços,
Ana Guimarães
Diretora de Operações no ManpowerGroup Brasil