A indústria de tecnologia tem um grande desafio: apesar de crescer rapidamente nos últimos anos, a participação das mulheres no setor continua desproporcional em comparação aos homens.
De acordo com projeções da Gartner, os gastos mundiais com TI devem totalizar US$ 5 trilhões em 2024 — um aumento de 6,8% em relação ao ano anterior. No entanto, as mulheres representam apenas 28% da força de trabalho da indústria de tecnologia; e só 43% dos empregadores globais afirmam ter iniciativas para aumentar a participação de candidatas em funções de STEM.
Essa disparidade ocorre mesmo com a crescente demanda por profissionais tech. Conforme nossa mais recente Pesquisa de Escassez de Talentos, 79% dos empregadores brasileiros, na indústria de tecnologia, relatam não conseguir encontrar os talentos de que precisam.
Muitas vezes, esse segmento se concentra apenas nas habilidades técnicas, quando as soft skills, incluindo responsabilidade e confiabilidade, colaboração e trabalho em equipe, raciocínio e resolução de problemas, e aprendizagem ativa e curiosidade, são igualmente importantes.
Com a crescente demanda por profissionais de TI, por que não conseguimos inserir mais mulheres nesta indústria? Megan Smith, ex-CTO no Gabinete de Política Científica e Tecnológica dos Estados Unidos, tem uma sugestão: “precisamos mudar a narrativa em torno das mulheres na tecnologia de escassez para abundância. Não faltam mulheres talentosas, apenas faltam oportunidades e apoio.”
As mulheres precisam de mais apoio e recursos para o desenvolvimento de suas carreiras. As empresas devem investir em programas de treinamento e orientação voltados para as suas colaboradoras, e fornecer a elas as oportunidades de networking e aprendizado de que precisam para progredir.
Alcançar a equidade de gênero no setor de tecnologia é crucial não apenas para criar uma força de trabalho mais diversificada e inclusiva, mas para promover a inovação e impulsionar o crescimento econômico.
A seguir, destacamos algumas estratégias que podem preencher a lacuna da escassez e acelerar o caminho para a equidade de gênero.
Uma das barreiras significativas para alcançar a equidade de gênero no setor de tecnologia são as práticas de contratação tendenciosas. Preconceitos inconscientes podem impedir que mulheres sejam contratadas, promovidas e até mesmo reconhecidas por seu trabalho.
Para combater este cenário, as empresas devem implementar certas estratégias, como usar a linguagem neutra em termos de gênero nas descrições das vagas e utilizar diferentes painéis de contratação para eliminar vieses inconscientes.
As oportunidades de desenvolvimento profissional podem auxiliar as mulheres na indústria de tecnologia a obter as habilidades, o conhecimento e a experiência necessária para progredir em suas carreiras. As empresas podem fornecer treinamento, orientação e momentos de networking.
A indústria tech é conhecida por suas longas horas de trabalho e uma cultura organizacional bastante intensa, dificultando para que mulheres e homens equilibrem as tarefas e as responsabilidades familiares.
As empresas, portanto, devem fornecer acordos de trabalho flexíveis, como opções de atuar em casa, durante meio período, ou ter horas reduzidas e políticas atualizadas de licença parental, para ajudar as colaboradoras a alcançarem o equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
As empresas precisam criar uma cultura de trabalho mais solidária e inclusiva, que valorize a diversidade e promova a colaboração entre as equipes. Isso pode ser alcançado por meio de iniciativas, como grupos de afinidade para as pessoas colaboradoras, treinamentos em diversidade e inclusão, e políticas que promovam o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, como citamos anteriormente, além de suporte à saúde mental.
A disparidade salarial entre gêneros é um problema persistente na indústria de tecnologia e em muitas outras. Para resolver, as organizações devem realizar auditorias salariais regularmente e garantir que as mulheres sejam pagas de forma justa e igualitária.
Além disso, as companhias podem tratar com transparência os pagamentos e as promoções, apresentando diretrizes descomplicadas sobre como essas decisões são tomadas no dia a dia.
Em lugares em desenvolvimento e em comunidades de baixa renda nos países desenvolvidos, o acesso à tecnologia costuma ser limitado, criando uma divisão digital. Como resultado, as mulheres dessas regiões acabam não conseguindo participar plenamente das inovações tecnológicas que surgem, limitando suas oportunidades de educação.
Quando organizações oferecem computadores e outros equipamentos e acesso à internet, mais mulheres podem começar em programas de STEM (acrônimo em inglês, representa um sistema de aprendizado nas áreas de Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática) e ter outros recursos para buscar educação ou oportunidades para uma carreira profissional.
Não existe uma solução única para este problema, mas o que não podemos é aceitar como as coisas estão e esperar que elas se resolvam sozinhas. A hora da ação é agora.
Agindo, podemos criar uma cultura mais inclusiva e acolhedora, proporcionando acesso à educação e capacitando as mulheres para se tornarem lideranças e referências na área. Ao fazer isso, não apenas ajudaremos meninas e mulheres, mas também poderemos melhorar a indústria de tecnologia, tornando-a mais justa, equitativa e sustentável simultaneamente.