Mesmo com os avanços para aumentar a empregabilidade de pessoas negras, pesquisas recentes mostram que ainda há muito a fazer na luta contra o racismo no ambiente de trabalho.
Atualmente, estima-se que aproximadamente 56% da população brasileira seja composta por pardos e pretos. Ainda assim, a taxa de desemprego entre esses grupos superou a média nacional (7,4%) em 2023, ficando em 8,9% para pessoas pretas e 8,5% para pardas.
Quando falamos sobre cargos de gestão, a situação se torna ainda mais desafiadora: apenas 8% dos negros ocupam cargos de liderança no Brasil, segundo mapeamento realizado pelo Indique uma Preta e Cloo.
Os números evidenciam que ainda há muito a ser feito para romper com o racismo estrutural e institucionalizado no país. Se a sua empresa quer fazer parte deste movimento, te convidamos a continuar a leitura!
O primeiro passo para discutir o combate ao racismo no trabalho é entender as diferentes terminologias que englobam o conceito de discriminação racial. Portanto, começamos por elas:
É qualquer opinião ou sentimento concebido de forma superficial sobre determinada pessoa ou grupo. Em geral, ele é baseado na falta de conhecimento ou na criação de estereótipos, podendo resultar em racismo ou discriminação.
Para além do preconceito racial, outros tipos estão enraizados na nossa sociedade e, consequentemente, no mercado de trabalho, como o machismo, a homofobia e o etarismo.
Parte da crença de que uma raça, etnia ou algumas características físicas sejam superiores a outras.
Isso, por sua vez, resulta em desvantagens ou privilégios para grupos específicos, tanto por meio de práticas conscientes quanto inconscientes.
A discriminação racial é um dos resultados mais comuns do racismo e acontece quando o preconceito baseado na etnia ou cor de pele é demonstrado por meio de ações, sejam elas veladas ou não.
Na prática, a discriminação leva à rejeição e exclusão de determinados grupos. Afinal, ela parte do tratamento injusto e negativo às pessoas que fazem parte deles, como as pessoas negras.
Para além desta forma de racismo, há duas outras classificações que fazem parte do mesmo contexto:
Mais do que uma questão ética, combater o racismo no trabalho também é um dever legal, tendo em vista as diversas leis que criminalizam o preconceito racial no Brasil.
As duas mais importantes são:
Entre os pontos defendidos, destaca-se a pena de reclusão para quem, por motivo de discriminação de raça ou de cor:
Vale lembrar que, em 2020, o Projeto de Lei 5232 alterou a Lei n° 7.716, tornando os administradores de empresas responsáveis, tanto civil quanto criminalmente, caso não tomem as medidas efetivas para prevenir e mitigar a discriminação.
Como dissemos no início do artigo, o combate ao racismo no trabalho é uma pauta que ainda merece atenção. E há vários dados, para além dos que já apresentamos, que ajudam a reforçar esse cenário.
Uma pesquisa encomendada pela CNN Brasil, por exemplo, mostrou que 75% das empresas brasileiras apontam o racismo como principal discriminação no ambiente de trabalho.
Inclusive, esse fato já resultou na abertura de 22.511 ações à Justiça do Trabalho em todo o Brasil, entre 2014 e 2022.
Outro ponto que evidencia a gravidade do problema é a disparidade salarial. Segundo dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as pessoas negras ganham 61% menos que as pessoas brancas empregadas.
Além disso, também são elas que predominantemente ocupam postos de trabalho informais ou aqueles que oferecem menores rendimentos médios.
Para reverter números tão significativos, as organizações podem e devem ser agentes de transformação. A seguir, traremos alguns insights sobre como construir diversidade e equidade racial no ambiente de trabalho.
Para lutar contra o racismo, as empresas não podem ficar apenas no discurso: é preciso desenvolver ações concretas e engajar todas as pessoas colaboradoras em prol do mesmo objetivo.
Veja, abaixo, algumas iniciativas que podem fazer a diferença.
Se a sua companhia deseja desenvolver projetos de combate ao racismo realmente relevantes, contar com um comitê de diversidade é um passo necessário.
Esses grupos são formados por colaboradores de diversas áreas, que têm afinidade com a causa e que, de forma voluntária, se colocam à disposição para pensar e implementar medidas que gerem mudanças positivas nas organizações.
Ter metas claras de combate ao racismo é outra prática ganhando espaço nas empresas que se comprometem com a causa.
Algumas organizações já estabeleceram como objetivo aumentar a porcentagem de profissionais negros, especialmente, em posições de liderança ao longo dos próximos anos.
As vagas afirmativas costumam ser um desdobramento direto do estabelecimento de metas de diversidade na empresa.
Afinal, o objetivo delas é ampliar a participação de pessoas que pertencem a grupos historicamente minorizados e excluídos.
Para explicar melhor, as vagas afirmativas nada mais são do que vagas de trabalho destinadas exclusivamente a grupos específicos, como pessoas pretas ou indígenas.
Uma iniciativa que ficou bem conhecida foi o Programa de Trainee do Magazine Luiza para jovens negros.
Aqui, o óbvio precisa ser dito: definir políticas e práticas de inclusão, bem como disseminá-las entre todos os colaboradores, é fundamental para não restarem dúvidas sobre o posicionamento da empresa.
Um caminho é desenvolver um código de conduta que proíba explicitamente qualquer forma de discriminação, incluindo o racismo, e que estabeleça as consequências para comportamentos inadequados.
Lembrando que essas políticas devem ser claras, acessíveis e frequentemente revisitadas para garantir sua efetividade.
Para garantir que o racismo seja efetivamente combatido, também é indispensável disponibilizar meios para os colaboradores poderem reportar casos de discriminação no ambiente de trabalho.
Ter um canal de ouvidoria interna, que mantenha o anonimato das denúncias, é um bom começo.
Além disso, é importante criar um ambiente seguro, no qual os colaboradores se sintam confortáveis para conversar com suas lideranças ou com o RH caso enfrentem alguma situação descabida.
Temas como Diversidade e Inclusão já fazem parte das estratégias de educação corporativa da sua empresa?
Se a resposta for não, essa é a hora: lutar contra o racismo e demais preconceitos exige conscientização constante!
Promover palestras e divulgar conteúdos que incentivem o diálogo, especialmente entre profissionais brancos, são algumas medidas que podem fazer a diferença.
Afinal, como já dissemos anteriormente, há muitos comportamentos reproduzidos no dia a dia de forma inconsciente.
Por fim, não poderíamos deixar de falar sobre a importância de conscientizar os líderes sobre o combate ao racismo no trabalho. Na prática, eles serão os grandes responsáveis por propagar a cultura antirracista para os demais colaboradores.
Também é fundamental investir na capacitação de lideranças negras, aumentando assim a representatividade nas posições de gestão. Ter profissionais pretos e pardos ocupando diferentes cargos faz parte do processo de conscientização.
Considerações finais
Combater o racismo no trabalho demanda que as empresas estejam verdadeiramente dispostas a repensarem seus processos e a proporem caminhos mais conscientes, responsáveis, inclusivos e igualitários.
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