Se antes a área de TI era vista como uma pequena equipe que respondia chamados dos demais colaboradores e fazia manutenção nos equipamentos, hoje, definitivamente, essa não é mais a realidade. Agora, o setor de Tecnologia da Informação está no epicentro da transformação digital e se tornou extremamente estratégico para as organizações.
Tanto que a demanda por talentos tech não para de crescer: no Brasil, segundo dados da Brasscom, a Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais, serão necessários quase 800 mil profissionais de TI até 2025.
Contudo, a formação desses colaboradores não acompanha a demanda, levando a um cenário de escassez de, aproximadamente, 106 mil pessoas por ano.
Ainda, este é um setor dinâmico e que não está isento de outros desafios, especialmente quando falamos da saúde mental das pessoas que o compõem. O ritmo acelerado, a pressão constante, as altas demandas e os prazos apertados impactam significativamente o bem-estar dos profissionais de TI, fazendo com que esgotamento, estresse e ansiedade estejam mais presentes nas carreiras digitais.
Várias pesquisas apontam nessa direção. O estudo The State of Burnout, realizado em 2020, mostrou que 61% dos talentos de TI se sentiam esgotados. Quando a avaliação foi repetida, meses depois, o percentual subiu para 73%.
Em 2022, o burnout entrou oficialmente para a lista de doenças ocupacionais da OMS, a Organização Mundial da Saúde, compartilhando a responsabilidade das empresas em prevenir e cuidar para que colaboradores não desenvolvam transtornos mentais associados ao excesso de trabalho.
Em um país no topo da lista entre os mais ansiosos e depressivos do mundo, o alerta é claro.
Quando 70% dos profissionais de TI consideram deixar o seu emprego, como o RH pode agir para cuidar da saúde mental dessas pessoas e impactar positivamente a retenção de talentos? A seguir, veremos algumas diretrizes para serem consideradas na sua organização. Acompanhe!
A cultura de trabalho do setor de Tecnologia da Informação, muitas vezes, exige disponibilidade constante e horas extras de trabalho. Por isso, é fundamental que as empresas incentivem seus colaboradores a encontrarem um equilíbrio entre vida e trabalho, estabelecendo limites de horários e apoiando a desconexão sempre que possível.
Embora a colaboração e o trabalho em equipe sejam essenciais também na área de TI, é comum que os profissionais tech passem longas horas focados em suas telas. Isso pode levar ao isolamento social e a uma comunicação limitada com colegas de equipe, impactando negativamente a saúde mental dos colaboradores. É responsabilidade, do RH e das lideranças, oferecerem momentos de interação, presencial ou remotamente.
Por falar em líderes, a cultura organizacional e a gestão das pessoas são os alicerces para que o cuidado com a saúde mental de profissionais de TI seja mantido e cultivado diariamente. Ainda mais considerando que, para 90% dos trabalhadores, o burnout está associado a lideranças negativas.
Além disso, segundo a pesquisa Dice Insights, de 2020, profissionais de TI disseram que a falta de reconhecimento estava também ligada ao esgotamento. Nesse sentido, líderes de tecnologia precisam ser estimulados e preparados para oferecer feedbacks, propor check-ins regulares e até mesmo criar estratégias de gamificação para valorizar cada pessoa do time.
A natureza em constante evolução da tecnologia significa que os profissionais de TI devem se esforçar para se manter atualizados. A pressão para aprender novas habilidades e acompanhar as últimas tendências pode ser avassaladora. Por isso, é importante que as organizações definam metas realistas de aprendizado e foquem em áreas ou novidades específicas para aliviar a ansiedade relacionada a esse desafio.
O RH pode assumir a tarefa de realizar um “diagnóstico” sobre o que deve estar estressando os times de TI, o que pode ser feito a partir de pesquisas com os próprios colaboradores ou por meio de monitoramento do bem-estar da equipe.
Também é uma opção criar mecanismos para que lideranças e liderados apontem, continuamente, níveis de frustração, exaustão, atritos e ineficiência de processos para identificar estressores e desenvolver recursos para neutralizá-los.
A demanda por jornadas mais flexíveis é geral, mas ainda mais presente entre os profissionais de TI.
Segundo o Relatório de Tendências 2023: A Nova Era do Potencial Humano, 87% dos entrevistados não querem trabalhar presencialmente todos os dias da semana, e 42% preferem o modelo híbrido. Aqui, voltamos para as lideranças, pois o comportamento de gestores é a referência e a afirmação dos valores da empresa.
Logo, essas pessoas precisam incentivar seus colaboradores ao equilíbrio e à preservação de hábitos que contribuem para o bem-estar — sem retaliações posteriores. Nesse contexto de flexibilidade, vale também destacar o papel da autonomia. Acostumados com métodos ágeis e relações mais horizontais, profissionais de TI precisam sentir que têm espaço para gerar valor.
As organizações também podem apostar em núcleos estruturados para tratar da agenda de bem-estar dos colaboradores, incluindo a saúde mental. Nesse espaço, podem ser discutidas estratégias para fazer a empresa “se acostumar” com o assunto. Isso envolve, por exemplo:
O espaço seguro se torna ainda mais interessante se o grupo estiver formado por profissionais de RH e também de diferentes áreas da empresa, como a de TI, para haver uma visão plural sobre as propostas e as melhorias contínuas dos projetos.
Ainda que toda organização precise de uma equipe de TI de alta performance para avançar na transformação digital, não é saudável, nem sustentável, sobrecarregar profissionais tech com pressões exageradas e jornadas exaustivas de trabalho.
Cabe às empresas, contando com a abordagem humana do RH, ressignificar a relação com o trabalho e propor novos caminhos para a produtividade, a inovação e a geração de valor, sem colocar em risco a saúde mental desses talentos.
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