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Um caldeirão de fenômenos está redesenhando o mundo do trabalho. Entre eles, está a economia gig, que, apesar de não ter uma data precisa de inauguração, despontou com o surgimento de plataformas digitais, criando um mercado de profissionais autônomos e freelancers contratados temporariamente por empresas que precisam de determinados talentos para atender demandas pontuais — de forma recorrente ou não.
Esta dinâmica vem ganhando cada vez mais espaço, a partir de uma combinação de fatores catalisados nos últimos anos: a mudança de visão sobre o trabalho, que supera a perspectiva mecanicista, para uma abordagem por projetos focada em velocidade; a crescente adoção da tecnologia, que extrapola as fronteiras geográficas de contratação, gestão e colaboração entre pessoas; e a ávida busca das pessoas por mais flexibilidade e autonomia em suas jornadas diárias e profissionais.
Mas o que gostaria de destacar neste artigo não é exatamente a mudança no ecossistema de talentos das organizações — o que, de fato, é um tema bastante pertinente —, e sim como empresas podem encontrar no comportamento de profissionais autônomos as habilidades certas para serem incorporadas por seus colaboradores permanentes. Trago aqui a mentalidade gig como ponto de partida para o desenvolvimento de talentos. Me acompanhe.
Profissionais que optam por seguir a carreira autônoma carregam e aperfeiçoam habilidades valiosas em um contexto volátil, acelerado e incerto. Afinal, sem um contrato formal e estável de trabalho, precisam estar em constante movimento, buscando novos conhecimentos, adotando uma postura proativa e resiliente, tomando decisões, adaptando-se rapidamente a cada projeto, além de desenvolver a autogestão e o interesse pela cooperação. São pessoas que se responsabilizam pelo próprio crescimento e tendem a ousar mais, abrindo espaço para a criação de novas soluções.
Com a pandemia e a ascensão dos formatos remoto e híbrido, algumas dessas competências, como a autogestão e a adaptabilidade, foram impulsionadas em trabalhadores de todos os tipos, pois também precisaram gerenciar suas rotinas, lidar com imprevistos e solucionar novos problemas. Mas é possível ir além, agregando e fortalecendo as equipes para pensar e agir como profissionais freelancers, de forma consistente e intencional — e a área de Gestão de Pessoas tem muito a contribuir com isso.
“Quem tem a mentalidade gig não atua como um funcionário tradicional, e sim desafia o status quo, descobre novas formas de trabalhar e desenvolve suas próprias habilidades e conhecimentos, enquanto avança nos objetivos da organização.”
Fonte: Você RH. Jane McConnell, autora do livro The Gig Mindset Advantage: A Bold New Breed of Employee
Nesse sentido, proponho que profissionais de RH, de Gente & Gestão, trabalhem em estratégias que promovam comportamentos da mentalidade gig, apostando em:
Uma das habilidades que se destacam em profissionais autônomos é a atualização e o compartilhamento de conhecimento, fator pelo qual costumam desempenhar uma influência social interessante junto a uma equipe. Dentro da organização, é possível estimular tal mentalidade por meio da construção de uma cultura orientada pelo interesse persistente em aprender a cada experiência e pela oferta de oportunidades de aprendizagem significativas, incluindo momentos de troca entre as pessoas.
Tomar a responsabilidade pela condução da própria carreira também faz parte da mentalidade gig. Quando pensamos em colaboradores permanentes, podemos incentivar esse protagonismo a partir do que chamo de ‘conversas de carreira’, nas quais cada profissional compartilha com seu líder os objetivos, as necessidades e os desejos para que, juntos, possam desenhar a melhor forma de trilhar a jornada profissional na organização, considerando a mobilidade para outras áreas e funções. Esse tipo de iniciativa também alimenta a proatividade no aprendizado, pois há clareza de onde se quer chegar e o que é preciso desenvolver para chegar lá.
Empresas que estão atentas às demandas das pessoas por flexibilidade entendem que é preciso rever as formas de gestão. Ao invés de microgerenciamento e hierarquias rígidas, o caminho é apostar em formatos de trabalho que permitam o desenvolvimento da autonomia, da segurança para tomadas de decisão e da autoliderança. É fundamental aqui que as estratégias valorizem tais comportamentos e preparem gestores para abraçarem a liderança digital e as relações mais horizontalizadas.
Além disso, profissionais autônomos, ao atuar por projetos e estar em contato com diferentes perfis e especialidades, conseguem ampliar sua capacidade de colaboração. Sendo assim, do ponto de vista interno, é interessante investir em tecnologias, ambientes (especialmente na reconfiguração do escritório) e metodologias com o propósito de cooperação, oferecendo objetivos coletivos para que as pessoas trabalhem juntas.
Por fim, trago aqui o intraempreendedorismo como parte da cultura de inovação das empresas, com o objetivo de fomentar atitudes disruptivas e criativas, impulsionando a sustentabilidade dos negócios. Isso começa com estratégias de engajamento e motivação e, então, caminha para políticas de recompensa e reconhecimento. Empoderar colaboradores para que se sintam seguros para propor novas ideias, falhar e recalcular rotas cria uma atmosfera mais saudável e favorável à ousadia.
O caldeirão de transformações não para de receber novos ingredientes. Para navegar por um cenário em ebulição que deve persistir daqui para a frente, contar com profissionais aptos e dispostos a abraçar as mudanças e agir para criá-las é fundamental para o sustento das organizações. Apostar na mentalidade gig é uma estratégia de alavanca para o futuro do trabalho, temperando o presente.
Reflitam aqui comigo nos comentários e vamos conversar.
Abraços e até a próxima!
Wilma Dal Col,
Diretora de Gestão Estratégica de Pessoas no ManpowerGroup Brasil
Publicado originalmente em: https://bit.ly/3vtexdr