Recentemente, a compra do Twitter virou assunto em diversos veículos de comunicação, mas não somente pelo futuro da plataforma social. Elon Musk mal chegou à diretoria executiva e logo provocou mais uma repercussão em torno da sua forma de gerir pessoas.
Assim que assumiu a liderança, Musk iniciou um processo de demissão em massa, cortando 50% do pessoal. Enviou um comunicado direto e reto sobre como as coisas aconteceriam dali em diante, exigindo que colaboradores e colaboradoras escolhessem entre “trabalhar longas jornadas em alta intensidade ou deixar a empresa” – neste caso, com uma indenização de três meses de salário.
Antes disso, outro e-mail enviado pelo proprietário da Tesla já havia causado polêmica ao obrigar o retorno presencial por, no mínimo, 40 horas semanais nos escritórios e fábricas da montadora. Quem não aceitasse, sairia do quadro de funcionários.
Tais atitudes parecem não considerar a reinvenção do trabalho pelos trabalhadores, representada, por exemplo, em fenômenos como a Grande Renúncia, que começou nos Estados Unidos durante a pandemia e levantou as primeiras bandeiras sobre a quebra de paradigmas de modelos convencionais de gestão.
Sendo assim, esses episódios podem nos ajudar a compreender a dissonância entre esta forma de liderar e as novas demandas dos profissionais. Mas, afinal, o que as pessoas esperam dos líderes, hoje e amanhã? A pesquisa realizada pelo ManpowerGroup em parceria com a Thrive aponta para quatro pilares fundamentais, neste sentido. São eles a confiança, o propósito, a flexibilidade e o bem-estar.
São os líderes quem dão impulso a todos eles. Aqui, me refiro tanto a líderes de altos níveis hierárquicos, como Elon Musk, quanto a gerentes diretos, pois são aqueles e aquelas que disseminam a cultura organizacional e concretizam discursos e valores.
No entanto, segundo pesquisa da Gallup, apenas uma em cada 10 pessoas possui alto talento para gerenciar, o que, neste contexto de redefinição do papel da liderança, implica em uma necessidade urgente em capacitar profissionais com habilidades que os permitam agregar valor à experiência dos colaboradores e colaboradoras.
Como observamos ao longo de profundos estudos do ManpowerGroup, líderes, em todas as camadas, precisam ser capazes de facilitar caminhos do desenvolvimento individual e coletivo, atuando como mentores; bem como proporcionar cuidado por meio do diálogo transparente e empático (não pela imposição ou comunicados frios); da escuta ativa; da criação de um ambiente de segurança psicológica; e do incentivo à autonomia e ao equilíbrio na rotina de suas equipes.
Nestes últimos aspectos, vemos a flexibilidade como aliada, já que 93% das pessoas enxergam as jornadas flexíveis como importante fator para suas vidas profissionais; 64% querem mudar para uma semana de trabalho de quatro dias; 45% desejam escolher horários de início e término. A possibilidade de conciliação entre trabalho e atividades pessoais significa maior oportunidade de preservar o bem-estar e a saúde mental dos funcionários e funcionárias, gerando também a inclusão e o acolhimento de pessoas que são responsáveis pelo cuidado de outras, como pais e mães.
Ao contrário do que Elon Musk insiste, o trabalho sem estar dotado de sentido, de impacto e de significado, não atrai e muito menos retém talentos nas empresas. Reflexo disso são as demissões voluntárias em massa que eclodiram para além dos Estados Unidos – no Brasil, em agosto de 2022, de um total de 1.773.161, 35,7% de desligamentos foram pedidos pelos trabalhadores, batendo um recorde.
É para o horizonte em que as relações entre pessoas e organizações são ressignificadas e em que a produtividade se baliza pelo bem-estar dos trabalhadores que o mundo do trabalho caminha. No estudo em parceria com a Thrive, as expectativas citadas pelos profissionais mostram que o valor está especialmente atrelado a fatores relacionais e culturais:
Fonte: O QUE OS TRABALHADORES QUEREM: DA SOBREVIVÊNCIA À PROSPERIDADE NO TRABALHO
A alta performance das equipes sempre será algo a ser perseguido pela gestão. No entanto, o que falta para Musk, e que acredito que ainda possa faltar para muitas empresas, é a compreensão de que a prosperidade dos negócios está diretamente conectada à prosperidade das pessoas. Desse modo, “longas jornadas em alta intensidade” ou “obrigação de retorno 100% presencial” destoam nitidamente das demandas dos trabalhadores, afastando vínculos de confiança e senso de propósito, além de prejudicar uma atmosfera de produtividade saudável e feliz.
Quando a escassez de talentos bate recorde no mundo, isso pode ser particularmente arriscado, e por mais digitatizada que a empresa seja, o fator humano, assim como as habilidades tecnológicas, segue vital para garantir a sustentabilidade dos negócios.
Desaprendamos com Musk.
As lideranças da sua empresa estão preparadas para navegar nas mudanças e reescrever o papel de líderes no mundo do trabalho? Envie uma mensagem e vamos conversar.
Até logo,
Ana Guimarães
Diretora de Operações no ManpowerGroup Brasil