Está chegando o momento em que empresas brasileiras poderão testar a semana com quatro dias de trabalho, como parte do experimento conduzido pela 4 Day Week Global, em parceria com a Reconnect Happiness at Work e a Boston College. Após as etapas de planejamento, o projeto dá os seus primeiros passos, com mentorias e workshops para apresentar as metodologias a serem aplicadas nas equipes participantes.
A jornada reduzida de 40 para 32 horas já foi posta em prática em outros lugares, como Portugal, Reino Unido e África do Sul, e surge como uma possível resposta a um contexto em que a flexibilidade e a qualidade de vida são demandas cada vez mais relevantes para as pessoas trabalhadoras, e no qual as empresas têm dificuldade em atrair e reter talentos.
Apesar disso, as percepções de profissionais e empregadores sobre este tema estão distantes. Em uma das pesquisas realizadas pelo ManpowerGroup, os dados mostram que 4 entre 10 profissionais abririam mão de 5% do salário para trabalhar quatro dias na semana; por outro lado, apenas 1 em cada 10 empresas considerariam oferecer esse modelo de jornada.
Afinal, falar da redução da jornada de trabalho é lançar novos olhares para a produtividade, para a gestão do tempo, para o bem-estar e, principalmente, para o significado do trabalho na dinâmica de vida contemporânea. Não são mudanças irrisórias. Por isso, o convite aqui é para podermos, neste primeiro momento, exercitar o olhar curioso diante de uma possibilidade.
O ponto de partida são os resultados colhidos até aqui. As experiências implementadas pela 4 Day Week Global estabelecem parâmetros para avaliação do impacto da jornada de quatro dias, alguns deles são: dados financeiros, níveis de bem-estar e metas de produtividade. No Reino Unido, onde 61 companhias e 2900 colaboradores participaram do estudo, 92% das empresas dizem que vão seguir com o formato.
Durante o período, o turnover teve queda de 57%; 39% das pessoas se sentiram menos estressadas; e a receita, quando comparada ao intervalo similar em anos anteriores, teve aumento de 35%. Importante dizer que nesses testes a remuneração permaneceu intacta.
Mas não é só lá fora que os números são interessantes. Empresas nacionais que reduziram a carga horária por conta própria também relatam contentamento com o processo. Em entrevista para O Globo, Fabrício Oliveira, CEO da Vockan, comentou que o nível de satisfação das pessoas subiu de 54% para 70%; na empresa PhoneTrack, que adotou o modelo em março de 2022, os pedidos de demissão caíram 48%.
Com um dia livre na semana, profissionais encontram mais espaço para lidar com as demandas pessoais, incluindo a prática de exercícios físicos e cuidados com a saúde mental. São tempos e espaços que podem impulsionar o foco, a motivação e a criatividade, melhorando o desempenho no trabalho e o engajamento com a empresa.
É claro que desafios também se impõem. É preciso envolver altas e médias lideranças no processo e encorajar pessoas a reverem prioridades e procedimentos. Além disso, para avaliar os resultados, como a produtividade, é preciso mudar a concepção de quantidade por qualidade, exigindo um esforço para desconstruir um conceito que há tanto tempo se cristalizou como o padrão no mundo do trabalho.
Vale ressaltar que a mudança não é instantânea, nem simples, nem homogênea. Empresas podem se abrir para esta nova possibilidade ao mesmo tempo em que se voltam para as próprias realidades e objetivos, para encontrar um modelo de trabalho que faça mais sentido para o negócio e também para as pessoas. Aliás, é fundamental dizer que a oportunidade de jornadas flexíveis, sejam quais forem, deve ser ofertada para todos os níveis hierárquicos e funções, equitativamente.
Até agora, o que podemos afirmar é que os resultados encontrados, no mínimo, deveriam nos provocar a repensar a relação com o trabalho. Quanto aos testes que seguirão por aqui até dezembro, aguardaremos para descobrir o que podem nos revelar sobre a jornada reduzida aplicada ao contexto brasileiro. No mais, cabe às lideranças afinarem os ouvidos, saberem interpretar e, assim, adaptarem os movimentos para encontrarem eco dentro e fora das organizações.
E você, acredita que a jornada reduzida faz parte do futuro do trabalho por aqui? Gostaria de saber a sua opinião! Comente e vamos refletir juntos e juntas.
Abraços,
Ana Guimarães
Diretora de Operações do ManpowerGroup Brasil