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Empresas precisam se entender como parte do todo e agir sobre problemas do mundo

Escrito por Ana Cláudia Guimarães Estraiotto | 08/08/22

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Qual o objetivo de uma empresa? Há alguns anos, o destino era certo: o lucro. Felizmente, a resposta para essa questão vem sendo reavaliada e expandida para além do resultado financeiro, reverberando em uma maior consciência do papel das organizações na sociedade. Apesar do crescente diálogo sobre a agenda ESG (Environmental, Social and Corporate Governance, ou governança ambiental, social e corporativa, em português) ter se aquecido recentemente, movimentos como o Sistema B já incentivavam uma nova abordagem para o sucesso das empresas ao equilibrar propósito e lucro — descrito como “empresas que querem ser melhores PARA o mundo e não apenas as melhores DO mundo”. 

Aliás, o mundo está mudando. Valores emergentes como equidade, justiça social, responsabilidade ambiental e ética, além de uma atenção à saúde e ao bem-estar, especialmente à mental, ganham força e colocam em xeque a lógica do lucro, do extrativismo e da produtividade acima de tudo. Atento a isso, em 2020, o Fórum Econômico Mundial manifestou a necessidade de uma revisão nos modelos de negócio, apresentando o ‘Capitalismo das Partes Interessadas’, em que a geração de valor das empresas deve considerar também os benefícios para colaboradores, consumidores, comunidade local, governo,  ONGs e até mesmo concorrentes. 

Pensar na sustentabilidade das empresas passa, invariavelmente, por essa mudança de perspectiva; e pessoas, como consumidores e colaboradores, estão convocando as organizações para essa jornada. A pesquisa Edelman Trust Barometer 2022 aponta que a população brasileira está descrente de instituições como governo e mídia como agentes da transformação, e 64% enxergam as organizações como as mais confiáveis, éticas e competentes.

Do ponto de vista dos consumidores, o chamado é claro: o estudo Global Consumer Pulse mostra que 79% querem que as empresas se posicionem sobre temas relevantes da sociedade (cultura, meio ambiente, política); 76% dizem que os valores da organização e as ações de lideranças influenciam na decisão de compra; e 87% desejam que as companhias adotem mais transparência sobre a cadeia produtiva e as condições de trabalho. 

Em meio à escassez de talentos e uma nova hierarquia de necessidades dos trabalhadores, empresas devem compreender que, para pessoas, enquanto profissionais, valores compartilhados também importam. Nossa pesquisa The Great Realization: panorama do mundo do trabalho 2022’ identificou que 64% dos funcionários querem que seu trabalho diário ajude a construir uma sociedade melhor; e 2 em cada 3 profissionais querem trabalhar para empresas que tenham valores semelhantes aos seus. 

Incrementando os motivos pelos quais as organizações precisam se nortear pelo viés do bem-estar social, vale destacar ainda que o ESG se tornou um fator para a decisão de investimentos. Até 2025, a agenda deve atrair US$ 53 trilhões, de acordo com as previsões da Bloomberg. Ou seja, mais uma vez, o compromisso das empresas com a sociedade pesa na balança para impulsionar os negócios. 

É claro que dados e indicadores evidenciam a relevância de uma posição — e mais importante, ação e comprometimento genuínos — das companhias em relação aos desafios da sociedade, no entanto, acredito que é fundamental trazer a discussão para o ponto central: agir pelo que é certo. Organizações estão circunscritas em um todo, são elementos que movimentam, interferem, modificam esse todo. Um todo que está repleto de complexidade, de problemas estruturais como a desigualdade social e os mais diversos tipos de preconceito, além da crise climática que nos coloca em contagem regressiva. É preciso trabalhar uma visão de interdependência, afinal, sem pessoas, recursos e saúde, nenhum trabalho prospera e nenhum resultado acontece. 

Líderes podem questionar se esse caminho é viável e possível. Empresas do Sistema B, como Natura, e outras que adotaram a ‘transparência de impacto’ — metodologia criada por George Serafeim e sua equipe na Harvard Business School aplicada ao projeto Impact-Weighted Accounts Initiative (IWAI) para contabilizar os impactos sociais e ambientais nos relatórios financeiros, fazendo com que estes sejam quantificáveis e comparáveis — mostram que é uma questão de escolha e, claro, de dedicação para fazer acontecer. Neste artigo, você pode conferir o case de transparência de impacto da Intel e entender melhor sobre como essa proposta funciona. 

O mundo do trabalho, por muito tempo, foi guiado pela premissa do êxito financeiro ser o único indicador de sucesso. Mas este caminho não mais se sustenta e não mais se alinha às demandas e às urgências do mundo contemporâneo. Para organizações, o exercício é, assim, abandonar a ideia de ser alheia ao contexto — ou estar acima dele —, esforçando-se para uma mudança que promova mais conexão e geração de valor compartilhado com a comunidade e com o planeta, para que os ecossistemas ambiental, social e corporativo tenham a chance de conhecer novos sentidos do que é ser bem-sucedido.  

Espero que este artigo tenha aberto portas e janelas para novos modos de pensar a sua empresa e conduzir os negócios. Comente o que pensa sobre o assunto e vamos conversar! 

Abraços,  

Ana Guimarães 

Diretora de Operações no ManpowerGroup Brasil

Publicado originalmente em: https://bit.ly/3A0VARH