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Repensar o mundo, as relações humanas, de trabalho e com o meio ambiente. As mudanças são urgentes e a forma de atuarmos é no presente, no agora. Diante das pequenas revoluções que temos acompanhado no mundo do trabalho, estão o posicionamento cada vez mais sublinhado das marcas e os compromissos sociais e ambientais que as empresas têm assumido.
Não à toa, o ESG (sigla para boas práticas ambientais, sociais e de governança) tem ganhado relevância na mesa de discussões de líderes e gestores. É possível — e necessário — romper com barreiras e propor caminhos mais conscientes, responsáveis, inclusivos e igualitários para uma transformação genuína e humana.
Como Diretora de Gestão Estratégica de Pessoas no ManpowerGroup Brasil, gostaria de, neste artigo, destacar uma das pautas que está diretamente ligada às ações de ESG das empresas e que nós, como referência mundial em recursos humanos, fomentamos: a contratação de refugiados e a inserção dessas pessoas no mercado de trabalho brasileiro.
O Brasil tem cerca de 57 mil pessoas refugiadas reconhecidas pelo governo, segundo dados divulgados pelo Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE) na 6ª edição do relatório “Refúgio em Números”. Entre as nacionalidades com maior número de pessoas refugiadas reconhecidas, entre 2011 e 2020, estão a venezuelana (46.412), os sírios (3.594) e os congoleses (1.050).
Nas trocas e conversas com nossos clientes, percebo que a pergunta a se fazer é: por que não contratar um refugiado? Sabemos que o tema ainda é, infelizmente, cercado de preconceitos e desinformação. Estas barreiras dificultam o acesso das pessoas em situação de refúgio a uma nova possibilidade de vida, assim como também impedem que as empresas tomem conhecimento de uma força de trabalho importante e de potenciais talentos.
Então, no sentido de aproximar e conectar essas pontas soltas, nós, do ManpowerGroup, desenvolvemos ações voltadas ao social que visam a capacitação, a contratação e a inclusão de pessoas refugiadas. Antes, no entanto, de falar um pouco sobre nossas iniciativas que caminham por essa trilha da diversidade, dos direitos humanos e de trabalho decente, gostaria de reforçar algo sobre a competência dos refugiados.
É preciso que nos desfaçamos da ideia falaciosa de que pessoas refugiadas são incapazes. Ao deixarem o local de origem, essas pessoas não abandonaram seus conhecimentos e experiências adquiridas. Pelo contrário, trouxeram na bagagem suas trajetórias pessoais e profissionais — com o valor único e singular intrínseco a cada ser humano — além de uma dose extra de resiliência, vontade de aprender, determinação e coragem.
Em sua maioria, as pessoas em situação de refúgio são capacitadas, com uma profissão e falam idiomas variados, mas esbarram no preconceito e não têm a chance de atuar profissionalmente e de forma digna por aqui.
Para provar, trago uma pesquisa da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) que comprovou o elevado índice de desemprego entre os refugiados e também mostrou que, ao contrário do que se supõe, a escolaridade deles é mais alta do que o indicador nacional. Segundo o estudo, 34% dos refugiados que moram hoje, no Brasil, têm ensino superior. Entre os adultos brasileiros, o índice é de 17%.
Reconhecê-los enquanto talentos humanos e acolhê-los em nossos processos de inclusão e inserção no mercado de trabalho trata-se de uma prática corporativa que envolve trabalho decente, crescimento econômico e redução das desigualdades, objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, com os quais nós, do ManpowerGroup, somos comprometidos.
Em 2019, o ManpowerGroup Brasil se uniu à Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) para realizar, em São Paulo, a primeira ação voltada à inserção de pessoas em situação de refúgio no mercado de trabalho brasileiro. Durante dois dias, foram capacitadas equipes de 14 ONGs que atuam com a temática. Nos encontros, foram abordados desde a elaboração de currículos — que valorizam competências e habilidades — até como se comportar em entrevistas de emprego.
Outra ação da equipe do ManpowerGroup Brasil, instigada pela Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e que gostaria de destacar, foi a realização de 12 oficinas de orientação para mais de 600 venezuelanos, no auditório da Universidade Federal de Roraima (UFRR).
São iniciativas que acreditamos e praticamos com o objetivo de fomentar a contratação de refugiados por parte das empresas. A ação social reflete em integração, em inclusão, direitos humanos e valorização de culturas, além de trazer benefícios para o negócio e ampliar o potencial econômico do país.
Aproveito este momento para não deixar dúvidas quanto à legalidade da contratação de refugiados. Como falei no início, a desinformação é um impedimento que prejudica a inserção dessas pessoas no mercado de trabalho.
Mas, vejam só, é perfeitamente legal, e a admissão de refugiados segue as mesmas regras aplicadas na admissão de brasileiros. Não há qualquer ônus ou encargo extra para o empregador. Pessoas em situação de refúgio — ou estrangeiro que formaliza o pedido de refúgio — têm assegurado o direito de trabalhar legalmente no Brasil.
Outra questão que implica na não contratação de refugiados é a confusão entre refugiados e a condição de imigrantes muito pobres. Um estudo conduzido pelo professor Leandro de Carvalho, do Programa de Pós-Graduação em Direitos Humanos da Universidade de Brasília (UnB), ouviu 400 recrutadores de empresas de diferentes portes, localizadas na região metropolitana de São Paulo.
A pesquisa mostrou que 65% confundem a condição de refugiado com imigrante muito pobre. Além disso, 63% acreditam que o processo de contratação de um refugiado é mais complexo do que o de um brasileiro.
Derrubar barreiras, romper com preconceitos, olhar e enxergar nas nuances e pluralidades potências e possibilidades. Estas são ações que realizam movimentos importantes de transformação e evolução. São ações ligadas aos compromissos sociais assumidos por líderes e empresas com responsabilidade e consciência das novas e fundamentais relações humanas.
Por fim, gostaria de encerrar este artigo trazendo um tópico bastante relevante quando a pauta é a contratação de refugiados. Se o correto é se desfazer de preconceitos no momento de contratar alguém, diante da realidade da escassez de talentos, desqualificar uma pessoa pela sua origem e não qualificá-la pelos seus conhecimentos e experiências é, sem dúvida, desperdiçar uma oportunidade em um cenário de falta de profissionais capacitados.
Espero que este artigo tenha agregado reflexões importantes para o mundo do trabalho e fortalecido o desejo de empresas a seguirem com políticas de diversidade e inclusão, considerando a população refugiada como o olhar humano e despido de preconceitos.
Estou aqui para aprofundarmos essa conversa e também contribuir com estratégias de gestão de pessoas, sempre abraçando a pluralidade.
Abraços e até a próxima,
Wilma Dal Col,
Diretora de Gestão Estratégica de Pessoas no ManpowerGroup Brasil
Publicado originalmente em: https://bit.ly/3GV4KkD
Fontes: