O Brasil é o país com a maior população negra fora da África. Pelos números mais recentes do IBGE, 56% das pessoas se declaram pretas ou pardas por aqui. Além disso, a cultura brasileira recebeu influência dos ancestrais que foram escravizados. A nossa arte, a culinária, a música e a dança carregam também essas raízes.
Mas a conversa agora é sobre o nosso vocabulário popular. Entender o passado é de extrema relevância para compreender o presente e o futuro. Por isso, conheceremos mais sobre as expressões racistas que ainda são utilizadas no dia a dia, dentro e fora das empresas, e descobrir como elas podem ser eliminadas de qualquer diálogo.
Afinal, o mundo está em constante transformação, e a luta contra o racismo é uma batalha que vem ganhando cada vez mais força. No mercado de trabalho, as organizações podem desempenhar um papel fundamental na promoção da igualdade e na eliminação de qualquer prática discriminatória.
Neste artigo, explicamos a importância de excluir expressões preconceituosas das nossas falas e como é possível implementar políticas organizacionais para combater o racismo. Continue a leitura.
O racismo estrutural é percebido por 84% da população brasileira. No trabalho, o preconceito não se limita a grandes flagrantes de discriminação. Muitas vezes, se manifesta de maneira sutil, como em expressões ou “piadas” aparentemente inofensivas. Contudo, essas falas preconceituosas podem acabar criando um clima negativo, que afeta a dignidade e o engajamento de colaboradores.
Eliminar expressões racistas dos espaços de trabalho não é apenas uma questão de seguir o que é “politicamente correto”, é uma questão de respeito, justiça e equidade. Quando o preconceito persiste em uma empresa, as consequências podem ser devastadoras:
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Ser antirracista não quer dizer apenas que a sua empresa precisa repudiar ações racistas. Esse é, na verdade, um compromisso de ser ativa e proativa em eliminar o preconceito em todas as suas manifestações. Além de ações básicas, como punir comentários ofensivos, as organizações devem atuar criando ambientes inclusivos e igualitários, onde cada talento se sinta valorizado e respeitado.
Ou seja, uma abordagem antirracista requer implementar políticas e práticas concretas que promovam a diversidade e a igualdade. Empresas que adotam essa postura se comprometem também a revisar seus processos de recrutamento, proporcionando oportunidades iguais a todas as pessoas, independentemente de sua origem.
Elas investem em programas de treinamento que sensibilizam seus profissionais, promovendo uma cultura de respeito e empatia. Além disso, são companhias dispostas a enfrentar desafios que perpetuam a desigualdade racial, buscando soluções que reduzam ou eliminem a disparidade de oportunidades que historicamente afetou determinados grupos.
Ainda, é interessante destacar que empresas antirracistas conseguem:
Para eliminar atitudes racistas no ambiente de trabalho, as empresas podem implementar políticas eficazes. Aqui estão algumas medidas que devem ser adotadas:
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Lá no início do texto, falamos que a conversa seria sobre expressões racistas que ainda fazem parte das nossas conversas. Agora, chegamos de fato a este tema.
Ainda que seja algo “simples” e que demanda atenção diária, eliminar ditados do vocabulário pode ser a primeira ação para espaços organizacionais pautados em mais respeito e igualdade.
Por isso, listamos, a seguir, algumas falas e suas origens. E mesmo que não pareça “nada de mais”, chegou a hora de substituirmos essas e outras expressões que são discriminatórias. Vamos lá?
🔴 “a coisa está preta”
🟢 substitua por: “a coisa está difícil”, “a situação está complicada”
A expressão associa a palavra “preta” com uma situação desconfortável, desagradável, difícil ou perigosa.
🔴 “denegrir”
🟢 substitua por: “difamar”
O termo tem como real significado tornar negro, ou escurecer. É usado para difamar ou acusar injustiça por outra pessoa, sempre usado pejorativamente.
🔴 “fazer nas coxas”
🟢 substitua por: “malfeito”
Acredita-se que a expressão venha da técnica utilizada pelas pessoas escravizadas para fazer telhas. Por serem artesanais, portanto, e seguirem os formatos de diferentes corpos, as peças não se encaixavam bem umas nas outras, sendo consideradas malfeitas.
🔴 “humor negro”
🟢 substitua por: “humor ácido”
A fala descreve um tipo de humor mais ácido, com piadas de mal gosto, temas mórbidos ou sérios.
🔴 “lista negra”
🟢 substitua por: “lista proibida”, “lista restrita”
A expressão sempre vem trazendo uma carga negativa e, por isso, preconceituosa.
🔴 “mercado negro”
🟢 substitua por: “mercado clandestino”
O termo é usado para se referir a um sistema de compras e vendas ilegal.
🔴 “meia tigela”
🟢 substitua por: “péssimo”, “medíocre”, “inadequado”
A expressão vem dos tempos de escravidão: quando as pessoas escravizadas faziam o serviço ao agrado do dono, recebiam uma tigela cheia de comida; quando não o faziam, recebiam pela metade.
🔴 “serviço de preto”
🟢 substitua por: “malfeito”, “feito de forma errada”
Essa fala é bastante racista e autoexplicativa, fazendo referência ao trabalho realizado pela população negra de maneira negativa.
🔴 “cor de pele”
🟢 substitua por: “bege”, “tom de pele”
A “cor de pele” é usada, normalmente, para se referir à cor bege e seus diferentes tons, fazendo uma alusão à pele branca como a “tradicional”.
Para eliminarmos expressões racistas do dia a dia, é fundamental entendermos suas origens e as substituirmos por falas respeitosas. Afinal, cada pequena mudança nesse sentido contribui para a construção de espaços organizacionais mais positivos.
Portanto, é hora de nos unirmos na busca por uma linguagem inclusiva, tanto no ambiente de trabalho quanto em nossa vida cotidiana. Juntos, podemos contribuir para um mundo mais justo, onde a diversidade seja verdadeiramente celebrada e valorizada.