Estamos testemunhando uma mudança significativa em como dividimos nossa atenção entre diversas atividades. Em 2003, a média de tempo que dedicávamos a uma tarefa era de 2 minutos e meio. No entanto, de acordo com pesquisas recentes, nos últimos anos, essa média caiu drasticamente para cerca de 47 segundos.
O declínio pode ser atribuído aos estímulos incessantes que recebemos das telas, desencadeando a liberação de dopamina em nossos cérebros. Como esse fenômeno impacta o mercado de trabalho e quais ações as empresas podem adotar para garantir que seus colaboradores mantenham uma rotina mais equilibrada e focada?
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Estamos imersos numa época em que a distração se tornou uma presença constante. As telas, mostrando redes sociais e aplicativos, ou mesmo a televisão, proporcionam ao cérebro uma rápida injeção de dopamina, um dos conhecidos “hormônios da felicidade”, desencadeando uma sensação de satisfação. Esse impulso conduz nossas mentes a consumirem breves fragmentos de atenção antes de buscar o próximo estímulo, criando um ciclo vicioso.
Uma pesquisa conduzida na Universidade da Califórnia, entre 2003 e 2019, liderada pela professora de informática e especialista em atenção Gloria Mark, revela uma diminuição gradual e consistente na média de atenção das pessoas: de 2 minutos e meio para 47 segundos. O acesso constante a informações por meio de dispositivos digitais, como mencionado anteriormente, é apontado como um dos principais catalisadores desse declínio.
Embora cerca de metade dos adultos acredite estar perdendo a capacidade de se concentrar, a realidade pode ser ainda mais alarmante. Um estudo no Reino Unido revelou que, enquanto os participantes afirmavam verificar seus telefones 25 vezes por dia, as pesquisas indicam que o número real está mais próximo de 80 vezes.
É evidente também que a sociedade está se ajustando a períodos de atenção cada vez mais curtos. Notícias, filmes e até mesmo plataformas de vídeos, como o TikTok, estão se adaptando a essa nova realidade, apresentando conteúdos mais rápidos.
A falta de atenção não é apenas uma preocupação pessoal; ela está infiltrando o ambiente de trabalho. Pessoas estão se tornando mais propensas a distrações, verificando e-mails, em média, 77 vezes por dia; o Facebook, 21 vezes durante o expediente, além de outras distrações provenientes de notícias, comércios eletrônicos, ferramentas de comunicação interna, aplicativos de relacionamento, entre outros.
Ivone Ivassaki, Especialista de Data & AI, concorda que a diminuição de atenção devido a estímulos tecnológicos impacta a produtividade das organizações: “os colaboradores podem ter dificuldade em manter o foco em tarefas complexas. Ainda, setores que dependem mais de concentração, como desenvolvimento de softwares ou pesquisas, devem ser mais afetados do que aqueles com demandas menos intensivas em atenção”.
Para lidar com a falta de atenção, as companhias podem adotar estratégias simples e eficazes. Uma medida fundamental é eliminar notificações que geram distração; por exemplo, concentrar as conversas organizacionais em um único canal pode ser uma solução rápida. Além disso, garantir um descanso adequado para suas pessoas é essencial para prevenir a sobrecarga mental.
“Empresas podem promover uma rotina equilibrada incentivando pausas regulares, estabelecendo limites claros para as horas de trabalho, oferecendo suporte para o bem-estar mental, e incentivando práticas como o gerenciamento eficaz do tempo. É importante encorajar uma cultura que valorize a qualidade do trabalho em vez da quantidade de horas trabalhadas. Acredito que a tendência é que as companhias busquem, cada vez mais, a integração de tecnologias para apoiar a saúde e o equilíbrio de seus colaboradores”, complementa Ivone.
Ainda, as organizações devem investir em treinamentos para aprimorar a atenção e a produtividade de suas equipes. Programas de desenvolvimento pessoal, workshops de gerenciamento de tempo e treinamentos de Mindfulness podem auxiliar os profissionais a cultivarem habilidades que promovem mais foco e menos ansiedade no trabalho. Essas iniciativas, a médio e longo prazo, resultam em benefícios tanto para as pessoas quanto para o desempenho geral da empresa.
De maneira alguma. Diversas ferramentas podem ser utilizadas na promoção de hábitos saudáveis nos espaços de trabalho: “aplicativos são usados para incentivar pausas ativas, fornecer lembretes para se movimentar, monitorar tempo de tela e até mesmo oferecer programas de bem-estar mental. Uso aplicativos que me avisam a hora de parar e andar, uso outro para não pressionar a mandíbula, com recomendação ortodôntica, uso também um que me ajuda na concentração, controle de estresse e, às vezes, para me acalmar em momentos mais tensos”, conta Ivone Ivassaki.
Em resumo, a queda na média de atenção representa um desafio crescente para o mercado de trabalho. Conscientizar os colaboradores sobre a importância da atenção, implementar estratégias eficazes e abraçar os pontos positivos das novas tecnologias são passos cruciais para garantir uma produtividade sustentável em um mundo cada vez mais saturado de estímulos.
Para o futuro, Ivassaki vê outros desafios em relação à atenção dos profissionais: “viveremos o aumento das distrações digitais, a necessidade de equilibrar trabalho remoto com limites claros e a gestão da sobrecarga de informações”.
Você já discutiu a concentração e o bem-estar das pessoas colaboradoras em sua empresa? Para se atualizar sobre esse e outros assuntos que farão parte do seu dia a dia nos próximos meses, recomendamos a leitura do artigo Tendências de RH em 2024: como as empresas podem se preparar.